Descrição de chapéu BBC News Brasil

Cientistas fazem mapa detalhado do fundo do mar da Antártida

O conhecimento da forma do fundo do oceano é essencial para navegação segura, conservação marinha e compreensão do clima e da história geológica da Terra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

BBC News Brasil

Cientistas criaram o mapa mais preciso já feito das montanhas, cânions e planícies que compõem o fundo do oceano ao redor da Antártida.

Um novo mapa traça a forma do leito do oceano ao redor da Antártida
Um novo mapa traça a forma do leito do oceano ao redor da Antártida - IBCSO/AWI/Nippon Foundation/Seabed2030

Cobrindo 48 milhões de quilômetros quadrados, este gráfico detalha pela primeira vez um novo ponto mais profundo —uma depressão situada a 7.432 metros de profundidade chamada de Factorian Deep.

O conhecimento da forma do fundo do oceano é essencial para navegação segura, conservação marinha e compreensão do clima e da história geológica da Terra.

Mas ainda há muito a se aprender. Vastas extensões de terreno nunca foram devidamente observadas.

O projeto Carta Batimétrica Internacional do Oceano Antártico (IBCSO, na sigla em inglês) levou cinco anos para criar a primeira tentativa de um mapa abrangente, publicado em 2013.

O IBCSO e outros projetos semelhantes em todo o mundo estão gradualmente preenchendo as lacunas do nosso escasso conhecimento sobre o fundo dos oceanos do mundo.

Navios e barcos estão sendo incentivados a ligar rotineiramente seus dispositivos de sonar para obter medições de profundidade. Governos, corporações e instituições estão sendo instados a compartilhar dados e colocar o máximo possível em domínio público. E isso está rendendo frutos.

O novo mapa cobre a área do fundo do Oceano Antártico até 50 graus ao sul. Se você dividir os 48 milhões de quilômetros quadrados em quadrados de grades de 500 m, 23% dessas células passaram por pelo menos uma medição de profundidade moderna. Isso é uma grande melhoria em relação a nove anos atrás.

Anteriormente, o IBCSO começava a 60 graus ao sul, com menos de 17% das grades com medição moderna.

"É preciso entender exatamente o que significa a mudança de 60 para 50 graus; nós mais que dobramos a área do gráfico", diz Boris Dorschel, do Instituto Alfred Wegener da Alemanha.

Mapa mostra as áreas identificadas por navios com sonar. Medições de satélite de baixa resolução devem preencher o resto
Mapa mostra as áreas identificadas por navios com sonar. Medições de satélite de baixa resolução devem preencher o resto - IBCSO/AWI/Nippon Foundation/Seabed2030

"Assim, aumentamos a cobertura da área, mas também aumentamos a densidade de dados, porque, paralelamente, continuamos adquirindo novos dados", disse ele à BBC News.

Grande parte da informação no gráfico vem dos navios quebra-gelo que apoiam os esforços científicos na Antártida, incluindo do antigo navio polar do Reino Unido, o RRS James Clark Ross. (No futuro, esta contribuição britânica virá de seu sucessor, o RRS Sir David Attenborough, carinhosamente conhecido como Boaty McBoatface.)

Em viagens entre o Continente Branco e países como Chile, África do Sul e Tasmânia, suas ecosondas pesquisam o terreno submerso abaixo.

E essa atividade é cada vez mais coordenada, com organizações de pesquisa de diferentes nações trabalhando juntas para modificar um pouco as rotas seguidas por seus quebra-gelos.


Mapas mais detalhados sobre o fundo do mar são necessários por diversos motivos.

Eles são essenciais para a navegação segura, mas também para a gestão e conservação da pesca, porque é em torno das montanhas submarinas que a fauna marinha tende a se reunir. Cada monte submarino é um núcleo de biodiversidade.

Além disso, o fundo do mar acidentado influencia o comportamento das correntes oceânicas e a mistura vertical da água. Esta é uma informação necessária para melhorar os modelos que preveem as mudanças climáticas futuras —porque são os oceanos que desempenham um papel fundamental na movimentação de calor ao redor do planeta.

"Também podemos estudar como o manto de gelo da Antártida mudou ao longo de milhares de anos apenas observando o fundo do mar", explica Rob Larter, do British Antarctic Survey.

"Há um registro de onde o gelo fluiu e onde suas zonas de aterramento (lugares em contato com o fundo do mar) se estenderam. Isso está lindamente preservado na forma do fundo do mar."

O novo mapa foi possível graças ao financiamento da Fundação Nippon do Japão e ao apoio do SeaBed2030, o esforço internacional para mapear o fundo do oceano da Terra até o final da década.

No momento, nosso conhecimento de quatro quintos do terreno subaquático do planeta vem apenas de medições de satélite de baixa resolução que inferiram a presença de montes submarinos e vales profundos da influência gravitacional que essas características têm na superfície do mar. A água se acumula sobre a massa de uma grande montanha submarina e afunda levemente onde há uma trincheira.

Uma descoberta importante entre a primeira e a segunda versão do IBCSO é o reconhecimento do ponto mais profundo do Oceano Antártico. Trata-se de uma depressão chamada Factorian Deep no extremo sul da Fossa Sandwich do Sul. Ela encontra-se em profundidade de 7.432 m. Isso foi medido e visitado pelo aventureiro texano Victor Vescovo com seu submarino Limiting Factor em 2019.

A natureza remota e muitas vezes inóspita do Oceano Antártico dificulta o mapeamento de seções substanciais do leito. Há grande esperança de que uma classe emergente de embarcações robóticas possa cumprir essa tarefa nos próximos anos.

A Carta Batimétrica Internacional do Oceano Antártico foi publicada na revista Scientific Data.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.