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Empresas pedem compensações com créditos para reduzir poluição de plásticos

Em meio à discussão de tratado mundial, ativistas questionam iniciativas após polêmica em projeto da Danone

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Madeleine Speed Adrienne Klasa
Financial Times

Empresas estão fazendo lobby para que créditos relacionados à redução da poluição plástica sejam incluídos no primeiro tratado de plásticos da ONU (Organização das Nações Unidas) legalmente vinculante. O movimento gera preocupações entre grupos ambientalistas que entendem que isso poderá financiar iniciativas de queima de resíduos.

A Danone, que é dona das marcas de água Evian e Volvic, é um dos grupos que empregaram o uso de créditos de plástico para pagar pela recuperação de dezenas de milhares de toneladas de plástico na Indonésia, auxiliados pelo registro de compensações ambientais e pelo grupo de certificação Verra.

Mas a empresa suspendeu seus planos, após reclamações de moradores locais sobre poluição e doenças decorrentes das operações de resíduos, de acordo com documentos obtidos pela unidade investigativa da ONG Greenpeace, Unearthed.

Grandes produtores de plástico, liderados por empresas petroquímicas, bem como grupos empresariais, estão fazendo lobby para que compensações sejam introduzidas no tratado da ONU em negociação no Canadá nesta semana.

Escultura de grandes proporções de uma torneira pela qual jorram embalagens plásticas
Escultura intitulada 'Giant Plastic Tap' (torneira de plástico gigante), feita pelo artista canadense Benjamin Von Wong, no entorno da reunião da ONU que debate tratado mundial de plásticos em Ottawa (Canadá) - Dave Chan - 23.abr.2024/AFP

Semelhantes ao conceito de compensações de carbono, os créditos de plástico são um mecanismo financeiro que permite às empresas equilibrar o lixo plástico que coletam com o lixo que produzem, teoricamente "cancelando" o plástico que produzem ou usam. Os créditos de plástico também podem ser negociados.

A Verra, com sede em Washington, está entre as organizações que defendem a inclusão de compensações no tratado de plásticos. Em recomendações por escrito ao Comitê Intergovernamental de Negociação, a Verra argumentou que o instrumento legalmente vinculante deve promover o uso de "créditos de alta integridade".

Também realizou eventos paralelos nas negociações em Ottawa, promovendo um "título vinculado à redução de resíduos plásticos", ao lado do Banco Mundial.

Na Indonésia, a Danone colaborou com a empresa de gestão de resíduos Reciki para manter cinco instalações de reciclagem em todo o país que eram de propriedade e operadas pelo parceiro local.

Mas, em maio do ano passado, a Verra suspendeu as compensações ligadas ao projeto após "comentários substantivos de partes interessadas", de acordo com os documentos.

Em uma das instalações, o lixo seria processado usando reciclagem mecânica, transformando o plástico de baixo valor em "combustível derivado de resíduos", feito a partir de queima e compressão.

Moradores reclamaram que o local foi construído muito perto de áreas residenciais e relataram queixas de saúde como dores de cabeça, náuseas, dificuldades respiratórias, problemas para dormir e vertigem devido aos gases da instalação, de acordo com cartas enviadas tanto para a Verra quanto para a Danone.

Um líquido malcheiroso vazou do local para os quintais dos moradores, alegaram.

A Danone não comentou as reclamações específicas, mas disse que apoia um tratado de plásticos legalmente vinculante e ambicioso e que busca abordar o uso desnecessário de plásticos nas cadeias de suprimentos.

"A ação voluntária de empresas individuais só pode ser uma parte da solução", observou. "Os créditos de plástico poderiam fazer parte de uma abordagem holística para lidar com o lixo, por meio de certificações de projetos via Verra, mas acreditamos que ainda precisamos de mais pesquisas sobre sua eficácia e, portanto, não compramos créditos", completou.

Yuyun Ismawati, fundadora do grupo ambiental Nexus3 Foundation, na Indonésia, disse que a compensação de plástico permite que as corporações financiem soluções falsas prejudiciais, como a queima de plástico.

"Essa abordagem libera produtos químicos tóxicos nos plásticos e aumenta os riscos de saúde da comunidade relacionados a câncer e outras doenças não transmissíveis", disse.

Um estudo do grupo ativista sem fins lucrativos Break Free From Plastic apontou que 86% dos projetos na Plastic Credit Exchange, com sede nas Filipinas, o primeiro banco de dados de projetos de compensação de plástico, geraram créditos a partir da queima.

"A coprocessamento [queima de resíduos para geração de combustível ou outras matérias-primas] é frequentemente a única opção viável para esses materiais que não são recicláveis", disse Sebastian DiGrande, diretor executivo da PCX Markets. Este é "um método internacionalmente aceito para a recuperação de energia de resíduos plásticos e amplamente utilizado na Europa e em outros mercados ao redor do mundo".

O grupo sem fins lucrativos também calculou que 22% dos projetos no banco de dados da Verra envolviam queima. A Verra disse que nenhum dos créditos emitidos até o momento está ligado a atividades que usam incineração para lidar com o plástico coletado.

A organização disse ter levado os comentários das partes interessadas "extremamente a sério" e colocado o projeto de créditos de plástico da Danone em espera após o recebimento das reclamações. Acrescentou que o projeto havia sido registrado apenas para "fins contábeis" e nunca emitiu créditos de plástico.

Os créditos de plástico não são um substituto para as empresas lidarem com suas atividades "a montante", disse a Verra. "Como sabemos, os créditos de plástico sozinhos não podem resolver o problema da poluição por plástico. Temos que mitigar o lixo plástico em toda a cadeia de valor."

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