As plantações de soja ocupam 20 milhões de hectares do cerrado, o equivalente a 10% de toda a área do bioma. O levantamento divulgado neste domingo (11) pelo MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, mostra ainda que o espaço destinado a esse tipo de cultivo cresceu 1.443% entre 1985 e 2021.
Neste domingo, é comemorado o Dia do Cerrado. O MapBiomas aponta que, em 2021, apenas metade (53,1%) desse que é o segundo maior bioma brasileiro ainda estava coberto por vegetação nativa —nos últimos 37 anos, 27,9 milhões de hectares foram perdidos.
Segundo Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e que faz parte da equipe do cerrado no MapBiomas, a região está passando por dois processos simultâneos de transformação. "Por um lado, áreas já antropizadas [cujas características originais foram alteradas pelo homem], de pastagens, convertem-se em lavouras. Por outro, no entanto, vemos as lavouras entrarem diretamente sobre a vegetação nativa", afirma.
Para Conciani, isso indica que o aumento de produção no bioma não está se dando graças a melhores práticas e manejo de solo, mas pela abertura de novas áreas de cultivo. A substituição de pastagens pelo cultivo de grãos ocorre com mais intensidade ao sul e sudeste do cerrado, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Pesquisadora do Ipam e coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo diz que não se sabe qual é "o ponto de não retorno do cerrado", mas já há evidências do impacto da perda de vegetação nativa no clima regional.
Os pesquisadores apontam para artigo que concluiu que a conversão de áreas nativas do cerrado para pastagens e agricultura já tornou o clima na região quase 1°C mais quente e 10% mais seco. "Mudanças climáticas globais ainda podem agravar esse cenário de aumento de temperatura e redução de chuvas, trazendo prejuízos para a agricultura, o abastecimento de água das cidades e a produção energética do país.", diz Julia.
Segundo os responsáveis pelo levantamento publicado neste domingo, 12% do território do cerrado está em alguma área de conservação ou em terra indígena, sendo que 67% pertencem a propriedades particulares.
Nesta segunda (12), entrará em operação um novo sistema de monitoramento de alertas de desmatamento no cerrado pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com o MapBiomas e com o Lapig (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) da UFG.
O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.
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