Mudanças climáticas elevaram risco de seca em ao menos 20 vezes

Evento pode passar a ocorrer a cada 20 anos, estimam cientistas em relatório da WWA

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Paris | AFP

As mudanças climáticas aumentaram o risco de seca em "ao menos 20 vezes" durante o verão passado no hemisfério norte, segundo relatório científico do World Weather Attribution (WWA) publicado nesta quarta-feira (5).

A seca, que afetou vastas regiões de Europa, China e Estados Unidos, corre o risco de ocorrer a cada 20 anos com o clima atual, em vez de a cada 400 anos ou inclusive prazos mais longos como no passado.

O WWA é uma rede de cientistas que estuda a relação entre episódios meteorológicos extremos e o aquecimento global.

As consequências dessa seca impactaram o setor agrícola em dezenas de países, com colheitas em baixa e dificuldades que repercutiram nos mercados mundiais.

Trecho do rio Yangtze em Wuhan, na China, no início de setembro deste ano - AFP

Essa situação também favoreceu os incêndios florestais e prejudicou a geração de eletricidade, em particular a de origem hídrica e nuclear.

Por causa das ondas de calor no hemisfério norte (fora das regiões tropicais), a probabilidade de seca se multiplicou em um fator de "ao menos 20", de acordo com o relatório.

Isso significa que a um metro de profundidade, os solos florestais e agrícolas sofrem uma carência de água que afeta as raízes das plantas de forma acentuada.

"Os números exatos são incertos", admitem os cientistas, que trabalham em institutos ou organismos de prestígio.

"A verdadeira influência das atividades humanas é provavelmente mais elevada", avalia o WWA.

A temperatura média do planeta aumentou 1,2ºC desde a era pré-industrial, indicam os estudos dos climatologistas.

Os especialistas do Centro Comum de Pesquisa europeu tinham calculado que no verão passado a seca havia sido "a pior dos últimos 500 anos".

Mais frequentes e mais intensos

"O verão de 2022 demonstrou como as mudanças climáticas causadas pelo homem aumentam os riscos de seca agrícola e ecológica em regiões agrícolas e densamente povoadas do hemisfério norte", destacou Sonia Seneviratne, professora do Instituto para a Ciência Climática e Atmosférica em Zurique, coautora do estudo.

"Temos que parar de queimar combustíveis fósseis se quisermos estabilizar as condições climáticas e evitar que esses episódios voltem a se agravar. Serão cada vez mais frequentes e intensos com o aumento do aquecimento", acrescentou ela.

Na Europa central e ocidental, a probabilidade de seca é inferior: entre 5 e 6 vezes menos importante, segundo os cálculos. Essa variabilidade se deve à extensão do território e aos dados analisados.

"Habitualmente, os sinais relativos às mudanças climáticas são mais importantes em regiões maiores", disse Friederike Otto, do Imperial College de Londres, outra coautora do estudo, ao apresentá-lo a jornalistas.

"Quando analisamos regiões menores, encontramos mais variações diárias da meteorologia nos dados", mas esse efeito "se atenua" quando são estudadas regiões mais vastas, afirmou ela.

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