Descrição de chapéu mudança climática

Ativista egípcio detido e em greve de fome diz que está 'bem'

Departamento de segurança da ONU diz investigar denúncias de violação dos direitos humanos

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Sharm el-Sheikh (Egito) | AFP

O preso político Alaa Abd el-Fattah, de nacionalidade egípcia e britânica, em greve de fome há sete meses em uma prisão na região do Cairo, escreveu uma carta a sua família na qual afirma que está "bem" e voltou a beber água no sábado, informou o advogado Khaled Ali.

A administração penitenciária entregou a carta a Laila Sueif, a mãe do blogueiro pró-democracia. Sanaa Seif, irmã do prisioneiro, chamou o texto de "prova de vida".

Carta escrita por Alaa Abd el-Fattah e entregue à sua mãe é considerada uma prova de vida - AFP

Alaa Abd el-Fattah, símbolo da Primavera Árabe e opositor do presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, está no centro das atenções no Egito, que recebe a COP27 (reunião de cúpula mundial do clima) e que ocupa a 135ª posição na classificação mundial de 140 países do Estado de Direito, elaborada pelo World Justice Project.

Há sete meses, o ativista ingere apenas 100 calorias por dia. Em 6 de novembro, no início da COP, ele decidiu parar de comer e beber. Desde então, a família exigia uma prova de vida.

O advogado Khaled Ali compareceu três vezes à prisão de Wadi Natroun, a 100 km da capital egípcia, para tentar encontrar o ativista. Em duas ocasiões não conseguiu e retornou para uma nova tentativa nesta segunda (14).

Ativista egípcio Alaa Abd el-Fattah durante julgamento por insulto ao judiciário, em maio de 2015 - Khaled Desouki/AFP

Desta vez, a mãe do blogueiro o acompanhava e recebeu uma carta "com data de 12 de novembro na qual afirma que está bem, sob vigilância médica e que voltou a beber" no sábado (11), escreveu o advogado no Facebook.

Sua irmã, Sanaa Seif, confirmou a informação no Twitter: "Alaa está vivo".

"É claramente sua letra, é uma prova de vida, finalmente. Por quê guardaram por dois dias [a carta] sem nos entregar?", questionou. "Alaa diz que dará mais explicações quando possível", acrescentou.

Ícone da revolução de 2011 no Egito, que expulsou Hosni Mubarak do poder, Alaa Abd el-Fattah, perto de completar 41 anos, foi detido no fim de 2019. Ele foi condenado a cinco anos de prisão pela acusação de "divulgar informações falsas".

As autoridades das Nações Unidas responsáveis pela segurança da cúpula anual do clima em Sharm el-Sheikh disseram, nesta segunda-feira (14), que estão investigando acusações de alguns participantes de que foram espionados pela polícia egípcia.

Vários participantes da COP27, incluindo ativistas, especialistas e ONGs, disseram que se sentiram sob "vigilância" durante a cúpula, que começou em 6 de novembro na cidade egípcia situada às margens do Mar Vermelho.

O Departamento de Segurança da ONU, que trabalha junto com a polícia egípcia nesta cúpula, afirmou nesta segunda (14) que foi informado de "acusações" de violações do código de conduta e que está "investigando essas alegações".

As acusações vieram depois que a delegação alemã realizou um evento com Sanaa Seif.

A irmã de Alaa Abd el-Fattah foi repreendida em duas coletivas de imprensa por participantes do governo, que lhe disseram que seu irmão é um "criminoso", e não um "prisioneiro político".

O Egito tentou melhorar sua imagem ao sediar a conferência sobre mudança climática, mas foi criticado durante o evento por sua política de direitos humanos.

Uma fonte diplomática alemã disse que uma queixa foi feita ao Egito, porque a delegação "sentiu que estava sendo observada".

Liane Schalatek, do Heinrich Boll Stiftung, afirmou que se sentiu "observada" e "claramente mais desconfortável do que em qualquer COP anterior".

Schalatek, especialista em finanças climáticas que participa dessas reuniões da ONU desde 2008, disse que havia câmeras nas salas de reunião em Sharm el-Sheikh, voltadas para os rostos dos participantes.

"É tão desnecessário quanto incomum para reuniões de coordenação interna", afirmou. "E a possibilidade de que tudo esteja sendo gravado não pode ser descartada."

A Human Rights Watch já havia condenado a política de "vigilância total" do Egito, que incluía a instalação de câmeras em centenas de táxis em Sharm el-Sheikh.

O grupo com sede em Nova York também alertou que o aplicativo para smartphone da COP27 levanta suspeitas de "vigilância", pois exige acesso à câmera, microfone e geolocalização do dispositivo.

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