Descrição de chapéu The New York Times

Bolha gigante de algas marinhas deve chegar à Flórida, nos EUA

Conhecida como sargaço, pode causar poluição e ameaçar a saúde humana à medida que se decompõe

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Livia Albeck-Ripka Emily Schmall
The New York Times

Durante grande parte do ano, uma enorme "bolha" marrom flutua, de forma relativamente inofensiva, pelo oceano Atlântico. Suas gavinhas fornecem abrigo e criadouros para peixes, caranguejos e tartarugas marinhas. Abrangendo milhares de quilômetros, é tão grande que pode ser vista do espaço sideral.

Mas os cientistas dizem que nos próximos meses, a bolha —uma massa emaranhada e flutuante de um tipo de alga chamada sargaço— deve chegar à costa da Flórida (EUA) e em outros pontos ao longo do Golfo do México.

Cientistas dizem que a bolha começará a apodrecer, emitindo vapores tóxicos e sujando as praias da região durante os meses mais movimentados do verão.

Família brinca na praia de Fort Lauderdale, na Flórida (EUA), já com a presença de uma grande quantidade de algas na areia
Família brinca na praia de Fort Lauderdale, na Flórida (EUA), já com a presença de uma grande quantidade de algas na areia - Joe Raedle/AFP

As algas marinhas, que também podem causar poluição e ameaçar a saúde humana à medida que se decompõem, já começaram a se espalhar pelas costas de Key West, na Flórida.

No México, níveis "excessivos" da alga foram registrados no mês passado nas praias ao sul de Cancún. Fotos e vídeos da região mostram banhistas caminhando pela lama marrom ao longo de praias em geral reluzentes.

"Você não pode entrar na água", disse Leonard Shea, um youtuber viajante, num vídeo recente na cidade turística de Playa del Carmen, que mostrava ondas quebrando sob uma espessa manta de algas. "Não é uma experiência agradável."

O sargaço —um tipo de macroalga que é naturalmente abundante no Mar dos Sargaços, no Caribe— há muito tempo é visto flutuando em mantas no Atlântico Norte. Mas em 2011 cientistas começaram a observar acúmulos extraordinários de algas que se estendem num cinturão da África Ocidental até o Mar do Caribe e o Golfo do México, de acordo com um estudo de 2019.

A imensa floração continuou crescendo quase todos os anos.

Embora os cientistas ainda estejam tentando entender exatamente por que e como a massa, conhecida como o grande cinturão de sargaços do Atlântico, está se expandindo, parece ser sazonal —coincidindo com a descarga dos principais cursos d'água, incluindo os rios Congo, Amazonas e Mississipi.

O escoamento dessas fontes ajuda a alimentar a floração com nitrogênio e fósforo, disse Brian Lapointe, professor e pesquisador da Universidade Atlântica da Flórida, que passou a maior parte de sua carreira estudando o sargaço. As emissões de combustíveis fósseis e a queima de biomassa —como árvores após o desmatamento— também produzem nutrientes, acrescentou, que podem estar ajudando o crescimento da alga.

"Essas florações estão ficando cada vez maiores, e este ano parece que será o maior ano já registrado", disse Lapointe.

Em janeiro, os cientistas mediram a maior floração registrada naquele mês.

"É muito cedo para ver tanto, tão cedo", acrescentou. "Simplesmente não é um bom presságio para um verão de praia limpa em 2023."

De acordo com a Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica (Noaa na sigla em inglês), as florações de sargaços continuarão a perturbar as águas do Caribe até meados de outubro.

Embora o sargaço flutuante possa beneficiar os animais marinhos, fornecendo sombra e abrigo, os problemas começam quando ele chega à costa. À medida que o sargaço começa a morrer, ele degrada a qualidade da água e polui as praias, dizem os cientistas. Ele também pode sufocar hábitats vitais de mangue e sugar o oxigênio da água. A alga em decomposição também libera sulfeto de hidrogênio, um gás incolor que cheira a ovo podre e pode causar problemas respiratórios em seres humanos.

No verão passado, as Ilhas Virgens Americanas declararam estado de emergência, depois que "quantidades extraordinariamente altas" de sargaços se acumularam em suas costas, afetando uma usina de dessalinização na Ilha de St. Croix.

E em 2018, após uma explosão em massa que se espalhou por cerca de 5.500 milhas no Oceano Atlântico, médicos nas ilhas caribenhas de Guadalupe e Martinica relataram milhares de casos de exposição "aguda" a sulfeto de hidrogênio, de acordo com um estudo publicado naquele ano.

Mexicanos removem algas da praia del Carmen em abril do ano passado; este ano, a mancha já está chegando novamente ao Golfo do México e Flórida (EUA)
Mexicanos removem algas da praia del Carmen em abril do ano passado; este ano, a mancha já está chegando novamente ao Golfo do México e Flórida (EUA) - Elizabeth Ruiz - 6.abr.22/AFP

No passado, as cidades litorâneas sitiadas recorreram a várias medidas para se livrar do sargaço: no México, a marinha foi recrutada para retirar as algas do oceano e varrer as praias do país. Entretanto, alguns empresários propuseram transformar as algas em ração animal, combustível ou materiais de construção.

Mas Lapointe, o professor-pesquisador, alertou que qualquer um que experimente novos usos para as algas marinhas deve ter extremo cuidado: o sargaço contém arsênico, que, se for usado em fertilizantes, poderá subir pela cadeia alimentar.

A ameaça mais imediata, no entanto, é para o turismo.

"Está tendo efeitos catastróficos", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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