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Ingestão de plástico por humanos e animais modifica células, dizem cientistas

Especialistas estão preocupados com a possibilidade de os microplásticos provocarem danos ao DNA

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Clive Cookson
Financial Times

Novas evidências alarmantes estão surgindo sobre os danos potenciais causados pela poluição generalizada por plástico, com níveis significativos de partículas microscópicas da substância descobertas em muitos órgãos humanos e uma nova doença identificada em aves marinhas.

As pessoas consomem hoje, em média, cerca de cinco gramas de microplásticos por semana, ingeridos em alimentos e bebidas e inalados ao respirar ar poluído, disse o professor Philip Demokritou, da Universidade Rutgers, na reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, em Washington.

"O que é realmente alarmante é que os microplásticos entram nas células e interferem nos núcleos, o que levanta preocupações sobre possíveis danos ao DNA", disse ele. "Outro exemplo alarmante é que eles podem interferir na digestão e absorção de nutrientes importantes."

Homem passa por praia poluída com plástico na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro
Homem passa por praia poluída com plástico na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro; cientistas estão preocupados com a ingestão de microplásticos - Ricardo Moraes - 16.mar.22/Reuters

Separadamente, no último dia 3, cientistas do Museu de História Natural de Londres anunciaram a descoberta de uma nova doença em aves marinhas causada exclusivamente pela ingestão de plástico. Eles chamaram a condição de plasticose —uma doença fibrótica causada por pequenos pedaços de plástico que inflamam o trato digestivo. A inflamação persistente danifica os tecidos, que ficam marcados por cicatrizes e deformados.

Estudando cagarras na ilha de Lord Howe, na Austrália, eles descobriram que o proventrículo —a primeira parte do estômago das aves— tinha cicatrizes generalizadas. As aves que ingeriram mais plástico tinham mais cicatrizes.

"Embora esses pássaros possam parecer saudáveis por fora, eles não estão bem por dentro", disse Alex Bond, curador do museu encarregado dos pássaros. "Este estudo é a primeira vez que o tecido do estômago é investigado dessa maneira e mostra que o consumo de plástico pode causar sérios danos ao sistema digestivo dessas aves."

As aves afetadas tornam-se mais vulneráveis a infecções e parasitas, enquanto perdem parte da capacidade de digerir alimentos e absorver vitaminas.

Na reunião da associação científica, Luisa Campagnolo, da Universidade de Roma Tor Vergata, descreveu pesquisas recentes de cientistas italianos que encontraram minúsculas partículas de plástico de várias fontes em placentas humanas coletadas de seis mulheres com gravidez normal.

Outro estudo identificou partículas de plástico "não apenas no tecido placentário, mas também no mecônio, as primeiras fezes do bebê, o que significa que as partículas podem atravessar a placenta e chegar ao feto", disse Campagnolo.

"Um grande número de diferentes tipos de partículas de plástico foi identificado", acrescentou. "O mais abundante é o PVC, mas basicamente todos os outros tipos de plástico que fazem parte dos produtos de consumo diário estavam presentes."

Craig Bennett, executivo-chefe do grupo de conservação The Wildlife Trusts, do Reino Unido, disse que a pesquisa "ressalta meu medo de que estejamos testemunhando apenas o começo do problema do plástico. Nossos mares, rios e campos já estão inundados de poluição plástica. A pesquisa mostra como os humanos e a vida natural consomem microplásticos comendo, bebendo e respirando."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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