Aterro sanitário de Curitiba vira parque de energia solar

Capital do Paraná usa parte da Caximba, área que recebeu lixo por mais de 20 anos, para implantar painéis

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Curitiba

O espaço onde 12 mil toneladas de lixo produzidas em Curitiba e sua região metropolitana estão depositadas ganhou nas últimas semanas um novo destino: ser um parque de energia solar. Batizado de Pirâmide Solar da Caximba —nome do aterro sanitário que funcionou no local por 21 anos, até 2010— o projeto foi inaugurado com 8.600 módulos fotovoltaicos, que ocupam um quarto do terreno.

Segundo estimativa da Prefeitura de Curitiba, responsável pela instalação, esses painéis devem suprir 30% do consumo de energia elétrica dos prédios públicos municipais. Com isso, a ideia é reduzir em até R$ 3 milhões ao ano os gastos com energia elétrica.

Entregue no fim de março, no aniversário de 330 anos da cidade, o sistema distribui a energia gerada para a companhia de energia elétrica, que então abate os custos da conta da prefeitura. A administração municipal prevê ainda painéis solares em terminais de ônibus e na rodoviária para baixar as despesas.

Foto aérea de painéis em um morro
Pirâmide Solar do Caximba, antigo aterro sanitário de Curitiba que foi transformado em espaço com painéis de energia solar - Ricardo Marajó/SMCS/Prefeitura de Curitiba

Segundo a secretária municipal do Meio Ambiente, Marilza Dias, o clima nublado e frio de Curitiba em parte do ano não será problema. Ela afirma que o processo se beneficia de sol e calor, mas também funciona apenas com luminosidade. "O que gera energia é a luz, então há boa viabilidade, especialmente se compararmos a países com menos sol, como a Alemanha, que já usa muito esse sistema", diz.

"Transformamos um passivo em um ativo ambiental", completa a secretária.

A ideia nasceu em 2012, quando Rafael Greca (PSD), o atual prefeito, era candidato e quis propor uma maneira de reaproveitar o espaço desativado.

Pela possibilidade de movimentação do solo do "morro" (pelo formato, inspirou o novo nome de "pirâmide") não seria possível fazer escavações, então, para a sustentação, foram usados anéis de concreto, que se adaptam em caso de alteração do terreno.

A implantação, que custou R$ 28 milhões ao município, durou um ano e teve ainda o incentivo de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões), por meio de um prêmio concedido pela Rede de Cidades C40, iniciativa voltada a reduzir as emissões de carbono em municípios.

Foto aérea de painéis em um morro
Pirâmide Solar do Caximba, antigo aterro sanitário de Curitiba que virou parque de energia solar - Ricardo Marajó/SMCS/Prefeitura de Curitiba

Tratamento de resíduos

Desde a "aposentadoria", o Caximba precisa cumprir regras ambientais e ações previstas no plano de encerramento de suas atividades, o que inclui o tratamento e o monitoramento constante da geração de chorume (líquido derivado da decomposição do lixo) e da liberação de gases tóxicos. Esse trabalho envolve 33 profissionais e gastos de R$ 600 mil ao mês, segundo a prefeitura.

O tratamento do chorume envolve um sistema chamado de "wetlands", lagoas com plantas aquáticas que reduzem a poluição no líquido resultante da degradação dos resíduos sólidos, o lixiviado.

A qualidade do processo fez parte do estudo da bióloga Juliani Prestes, mestre e doutoranda em ecologia e conservação pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Para suas análises, ela usa bivalves de água doce (uma espécie de molusco) que atuam como bioindicadores.

"Eles respondem à contaminação por alterações de sua fisiologia e acúmulo de substâncias, permitindo avaliar os impactos do lixiviado nos organismos do meio aquático", diz a pesquisadora. De acordo com o estudo, o tratamento no local mostrou-se eficiente.

Leila Maranho, professora e pós-doutoranda em ecologia e conservação pela UFPR, acompanha o monitoramento do Caximba desde 2009 e afirma que as avaliações são positivas. "O monitoramento do lixiviado é mensal e em vários pontos, em toda a área do aterro", diz.

A secretária do Meio Ambiente ressalta que as ações foram previstas até 2035, mas serão adaptadas conforme o processo de estabilização do aterro. "Enquanto houver geração de chorume e gás, ele é considerado um passivo ambiental", explica Marilza.

Novo destino

Depois da desativação do Caximba, o lixo gerado em Curitiba e cidades vizinhas passou a ser enviado a dois aterros: um na CIC (Cidade Industrial de Curitiba), com capacidade máxima quase atingida, e outro em Fazenda Rio Grande, cidade da região metropolitana, que tem capacidade para receber o lixo por mais oito anos, prevê o Conresol (Consórcio Intermunicipal para Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos).

O próximo plano é eliminar a destinação de resíduos brutos (sem tratamento) para aterros sanitários. Para isso, estudos avaliam a transformação do lixo, não orgânico nem reciclável, em combustível derivado de resíduos (CDR). O objetivo é que ele possa substituir o uso de combustíveis fósseis em indústrias de cimento da região.

Marilza afirma que, em Curitiba, o rejeito do lixo não usado em associações de trabalhadores de materiais recicláveis já vem sendo transformado em combustível para as cimenteiras.

"Esperamos concluir os estudos de viabilidade em maio e ampliar esta gestão de resíduos, que integra uma série de ações para combater as mudanças climáticas", diz a secretária.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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