Descrição de chapéu Planeta em Transe

Lula diz que não existe sustentabilidade ambiental com guerra e cobra aportes de países desenvolvidos

Presidente participou de forma virtual de fórum organizado pela Casa Branca, no qual Biden anunciou US$ 500 milhões para Fundo Amazônia

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (20) que não é possível atingir sustentabilidade ambiental em um mundo em guerra e que é "urgente" buscar uma relação de confiança entre os países.

Lula ainda cobrou novamente os países desenvolvidos para que façam aportes para combater as mudanças climáticas. "É preciso que todos façam a sua parte", afirmou.

O mandatário ainda reforçou o compromisso do governo brasileiro de reflorestar 12 milhões de hectares.

Lula durante reunião com governadores e chefes de poderes no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 18 abr. 2023/Folhapress

Lula participou de maneira remota do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima (MEF, na sigla em inglês), que é organizado pela Casa Branca. O evento reúne as 26 maiores economias do mundo e contou com discursos dos líderes desses países.

O encontro foi fechado e não houve transmissão.

Embora não seja presencial e o tema não seja política, essa foi a primeira participação de Lula em um evento com potência ocidentais após o princípio de crise por causa das falas do mandatário brasileiro sobre a Guerra da Ucrânia.

O presidente aproveitou o evento para pedir paz e acrescentou que é necessário melhorar a relação entre os países.

"Os efeitos da mudança do clima agravam ainda mais a pobreza, a fome e a desigualdade no mundo, flagelos que o Brasil combate com todas as forças. Também somos defensores intransigentes da paz entre os povos. Não há sustentabilidade num mundo em guerra", afirmou o presidente, segundo o discurso que foi divulgado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República.

Lula então cobrou novamente os países desenvolvidos para que realizem aportes para combater as mudanças climáticas.

"Além da paz, é urgente buscarmos uma relação de confiança entre os países. No entanto, desde a Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro, a confiança entre os atores envolvidos tem declinado. Desde que o compromisso foi assumido, em 2009, o financiamento climático oferecido pelos países desenvolvidos mantém-se aquém da promessa de US$ 100 bilhões por ano. Como disse no início, é preciso que todos façam a sua parte", completou.

O presidente Lula participa do Fórum sobre Energia e Clima
Presidente Lula e outros líderes mundiais no Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima na manhã desta quinta (20) - Lula no Twitter

O mandatário brasileiro aproveitou o evento para divulgar números e promessas de seu governo em relação à área ambiental. Disse que sua gestão vai reverter "todos os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior".

"Fomos capazes de reduzir o desmatamento da Amazônia em mais de 80% ao longo de uma década, e voltaremos a fazê-lo. Os danos ao meio ambiente causados pelo governo anterior serão revertidos. Para tanto, retomamos o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que em passado recente foi responsável pela queda recorde na devastação da floresta. Nossa meta é o desmatamento zero", afirmou o presidente.

"Temos o compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares, e estamos fortalecendo os investimentos em bioeconomia, assegurando trabalhos dignos e sustentáveis para os 25 milhões de brasileiros que vivem na região", completou.

Durante o evento, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que o país pretende injetar US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) no Fundo Amazônia nos próximos cinco anos.

"Hoje tenho a satisfação de anunciar que eu solicitei aos fundos para que a gente possa contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia e outras atividades relacionadas com o clima nos próximos cinco anos para ajudar o Brasil a renovar seus esforços a acabar com o desmatamento até 2030", disse Biden, na abertura do fórum.

O valor é dez vezes superior ao que havia sido sugerido pelos americanos a autoridades brasileiras na visita de Lula à Casa Branca em fevereiro, de US$ 50 milhões, e que foi considerado abaixo das expectativas na ocasião. A proposta acabou retirada.

O novo valor que será destinado ao Fundo Amazônia ainda depende de aprovação pelo legislativo americano.

O anúncio do aporte também acontece após viagem de Lula à China, quando o brasileiro foi acompanhado de uma grande comitiva, teve agendas cheias e voltou com acordos de cooperação assinados e promessas de investimentos.

Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o aporte dos Estados Unidos pode maior. Ela afirmou nesta quinta, após o anúncio de Biden, que em conversas com o enviado especial dos EUA para assuntos climáticos, John Kerry, foram projetados até US$ 2 bilhões (R$ 10,1 bilhões) em investimentos.

"Segundo a conversa que eu tive com o secretário John Kerry, isso é apenas o início dos esforços para que possamos fazer uma alavancagem, segundo ele, de algo em torno de 2 bilhões, somando todas as fontes de atuação", disse Marina.

A ministra ainda destacou que o governo dos EUA irá investir mais US$ 50 milhões (R$ 252 milhões) destinados a reflorestamento em uma iniciativa do BTG Pactual. O projeto, na visão de Marina, pode alavancar novos investimentos destinados à reconstrução da floresta por toda a América Latina.

"Eles [governo Biden] estão dizendo: temos aqui 500 milhões para o Fundo Amazônia, mas também temos já 50 milhões para a parte de reflorestamento e uma alavancagem também para iniciativas na América Latina de forma geral", afirmou.

O BTG Pactual pretende arrecadar US$ 1 bilhão para restaurar 300 mil hectares de áreas degradadas no Brasil, Uruguai e Chile.

'Otimismo pragmático'

Em evento em Londres, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira disse que a contribuição anunciada pelos EUA para o Fundo Amazônia mostra que a comunidade internacional demonstra um "otimismo pragmático" com o Brasil.

"São dois cenários importantes. Primeiro, uma demonstração da responsabilidade que um membro com a envergadura dos EUA têm nesse processo", declarou durante evento do grupo Lide na capital britânica.

Além disso, disse ela, a contribuição é um recado para o Brasil. "A comunidade internacional demonstra esse otimismo pragmático com o país, entendendo que o Fundo Amazônia pode ser um dos instrumentos para assegurar que o Brasil trilhe de maneira mais robusta a segurança climática", afirmou Teixeira, que foi ministra nos governos Lula e Dilma.

Colaborou Fábio Zanini, de Londres.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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