Veja o que Lula já disse sobre a Guerra da Ucrânia

Petista atribuiu responsabilidade do conflito também a Kiev e disse que Estados Unidos incentivam a guerra

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São Paulo

As falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o conflito em curso na Ucrânia têm incomodado parceiros como os EUA e chamado a atenção por atribuir a Kiev uma parcela da culpa pela guerra, que se arrasta por mais de dois anos. Relembre o que o brasileiro já disse sobre a Guerra da Ucrânia a seguir.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado - 15.mar.23/Reuters

Mai.2022 — Zelenski também é responsável pela guerra

Em entrevista à revista americana Time, ainda quando era pré-candidato à Presidência, Lula disse que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, era tão responsável quanto Putin pela guerra.

Ele também afirmou que os EUA e a União Europeia estimularam o conflito e fez duras críticas à ONU, que, segundo ele, "não representa mais nada" e "não é levada a sério pelos governantes".

"Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os EUA e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os EUA e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na Otan’. Estaria resolvido."

Jan.2023 — China deve colocar a mão na massa

Por ocasião da visita do premiê alemão, Olaf Scholz, ao Brasil, Lula disse que a China —um dos países que ele inclui em seu rascunho de clube da paz— deveria desempenhar papel maior para parar o conflito.

"Acho que nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Quero conversar sobre isso com o presidente Xi Jinping. Está na hora de a China colocar a mão na massa", afirmou o petista.

Na viagem à China, no entanto, o assunto foi marginal, e Xi, cujo regime chegou a apresentar um plano vago de paz para a guerra, em fevereiro, não demonstrou o mesmo apetite de Lula para o assunto.

Fev.2023 — Erro histórico da Rússia

À emissora CNN o presidente afirmou considerar a guerra um erro histórico da Rússia. "Foi um equívoco, um erro histórico da Rússia invadir o território da Ucrânia. Precisa ter alguém para dizer ‘gente, vamos parar e conversar’, e não tem ninguém fazendo isso."

Lula voltou a mencionar sua proposta de clube da paz, pouco creditada mesmo entre aliados do Brasil, e disse que não pretende enviar munições para a Ucrânia, como já foi solicitado pela Alemanha. "Eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com essa guerra."

Abr.2023 — Zelenski não pode ter tudo

Durante café da manhã com jornalistas em Brasília, o presidente disse que a Rússia não pode ficar com o terreno da Ucrânia ocupado durante a invasão no país europeu, mas que Zelenski "não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer".

O maior imbróglio, que levou a uma resposta da diplomacia ucraniana, está no trecho em que Lula menciona a Crimeia, península do território ucraniano anexada por Moscou em 2014. O petista disse que "talvez se discuta a Crimeia", dando a entender que Kiev poderia ceder a região.

Abr.2023 — EUA incentivam o conflito

Durante viagem oficial à China, Lula cobrou dos EUA que "parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz" para encaminhar um acordo entre a Rússia e a Ucrânia.

Acrescentou: "Quem é que não está na guerra que pode ajudar a acabar com essa guerra? Somente quem não está defendendo a guerra é que pode criar uma comissão e discutir o fim dessa guerra".

Abr.2023 — Ucrânia e Rússia são responsáveis

Durante rápida passagem por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Lula disse que tanto Moscou quanto Kiev são responsáveis pela guerra e por prolongar o conflito no Leste Europeu.

"Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: 'Basta'", disse. Ele acrescentou que a "decisão pelo conflito foi tomada por dois países".

Abr.2023 — Não cabe a mim dizer de quem é a Crimeia

Após reunião com o premiê espanhol Pedro Sánchez, durante uma passagem pelo país, Lula tentou se esquivar ao ser questionado por um jornalista sobre o status dos territórios em jogo no conflito.

"Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia ou o Donbass. Quando você senta numa mesa de negociação, pode discutir qualquer coisa, até a Crimeia. Quem tem que discutir isso são os russos ou os ucranianos", respondeu o presidente. A Crimeia é uma península no Mar Negro que pertenceu à Rússia por séculos. Após ser cedida à Ucrânia pela União Soviética em 1954, foi anexada pelo governo de Vladimir Putin em 2014. Já o Donbass foi invadido pela Rússia no início da atual guerra. Ambos os territórios são áreas que Zelenski exige que sejam desocupados como pré-requisito para iniciar quaisquer negociações de paz.

Mai.2023 — Nem Putin nem Zelensky estão falando em paz agora

Depois de participar como convidado da cúpula do G7, grupo dos sete países com as maiores economias do mundo, Lula foi ao Twitter para afirmar que, assim como China, Índia e Indonésia o Brasil está empenhado em "construir a paz". "Sinto que nem o Putin nem o Zelensky estão falando em paz agora. Parece que os dois estão convencidos que alguém vai ganhar", escreveu em seu perfil na rede social.

Durante a reunião em Hiroshima, no Japão, o presidente brasileiro resistiu à ideia de conversar com Zelenski em um primeiro momento e, quando marcou um encontro bilateral, o líder ucraniano não apareceu. "Gostaria de encontrar com ele e discutir o assunto", disse, em referência à sua proposta de mediação de paz da guerra entre Moscou e Kiev. "Mas, veja, o Zelenski é maior de idade, ele sabe o que faz."

Em uma entrevista coletiva ao fim do encontro, Lula disse que não foi ao G7 discutir a Guerra da Ucrânia. "O espaço para discutir a guerra não é no G7 nem no G20, mas no prédio das Nações Unidas. Aliás, o Conselho de Segurança deveria estar discutindo. Por que não discute? Porque quem se envolve nas brigas são os membros do Conselho de Segurança. Então não tem ninguém para discutir paz", afirmou, engatando na histórica demanda brasileira de uma reforma no órgão.

Jul.2023 — Não quero me meter na guerra

Após falas que provocaram rusgas com países que apoiam Kiev no conflito, Lula disse querer evitar tecer comentários sobre o confronto no Leste Europeu.

"Não quero me meter na questão da guerra da Ucrânia e da Rússia. A minha guerra é aqui, é contra a fome, contra a pobre contra o desemprego", afirmou o petista durante reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Lula disse também que o Brasil tem bom relacionamento com todos os países e que não pretende comprar briga com ninguém.

Ago.2023 — Dois lados tentam ganhar guerra enquanto pessoas morrem

Em agosto, Lula voltou a equiparar Putin e Zelenski ao dizer que os dois estão "naquela fase 'eu vou ganhar, eu vou ganhar'.

"Por enquanto, a gente não tem ouvido nem do Zelenski nem do Putin a ideia de que nós vamos parar [o conflito] e negociar. Por enquanto, os dois estão naquela fase 'eu vou ganhar, eu vou ganhar'. Enquanto isso, as pessoas estão morrendo", disse Lula no início do mês de agosto em entrevista a correspondentes internacionais, em Brasília.

O presidente brasileiro voltou a afirmar que o Brasil busca a paz e que falta ação do Conselho de Segurança da ONU em relação à guerra, além de criticar outros integrantes permanentes do grupo.

"Essa guerra deveria estar sendo discutida no Conselho de Segurança da ONU, mas são os membros permanentes que fazem a guerra. Os Estados Unidos, quando invadiram o Iraque, não perguntaram para ninguém. A Inglaterra e a França, quando invadiram a Líbia, não pediram para ninguém, e agora a Rússia não pediu a ninguém. Eles são membros permanentes e têm direito a veto", afirmou.

Set.2023 — Putin não será preso se vier ao Brasil

No início do mês, em entrevista ao site indiano Firstpost durante cúpula do G20, em Nova Déli, o presidente brasileiro afirmou que ignoraria o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o líder russo, Vladimir Putin, caso ele compareça à próxima reunião do bloco, em 2024, no Brasil.

"Se eu for presidente do Brasil, e se ele [Putin] vier para o Brasil, não tem como ele ser preso. Não, ele não será preso. Ninguém vai desrespeitar o Brasil. Se você prender alguém no Brasil sem a autorização do governo, você não vai respeitar o Brasil", disse Lula.

O Brasil é signatário do Estatuto de Roma, tratado internacional que criou o TPI, e, em tese, deve se comprometer a cumprir ordens da corte.

Depois, Lula recuou e afirmou que a decisão de eventual prisão seria tomada pela Justiça. "Se o Putin decidir ir ao Brasil, quem toma a decisão de prendê-lo ou não é a Justiça, não o governo nem o Congresso Nacional", afirmou.

Set.2023 — Nem sabia da existência do TPI

Em seguida, o presidente brasileiro afirmou que não sabia da existência do tribunal internacional, sediado em Haia, na Holanda. "Me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU não são signatários, só os 'bagrinhos'", disse Lula. Na verdade, EUA, Rússia e China não aderiram ao TPI; França e Reino Unido, sim. No total, a instituição reúne 123 países.

No início do primeiro mandato, no entanto, em 2003, o petista se envolveu na indicação da primeira juíza brasileira a participar da corte, Sylvia Steiner. Além disso, Lula e lideranças petistas se manifestaram favoráveis ao TPI defendendo que a corte julgasse Jair Bolsonaro (PL) por crimes contra a humanidade durante a pandemia da Covid-19.

O TPI emitiu em março um mandado de prisão contra o líder russo devido a supostos crimes de guerra na Ucrânia. A alta corte argumenta que ele é o provável responsável pela deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia, uma vez que teria falhado em exercer controle adequado de seus subordinados civis e militares.

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