Seca recorde no Chifre da África foi 100 vezes mais provável devido à mudança climática

Altas temperaturas levaram a perda histórica de umidade do solo; quase 22 milhões estão ameaçados pela fome

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AFP

A seca histórica que afeta a região do Chifre da África é consequência de uma combinação de escassez de chuvas com temperaturas elevadas que não poderia ter acontecido sem as emissões humanas de gases do efeito estufa, afirma um relatório científico publicado nesta quinta-feira (27).

"A mudança climática provocada pelas atividades humanas tornou a seca agrícola no Chifre da África quase cem vezes mais provável", afirma um relatório do grupo WWA (World Weather Attribution), uma rede mundial de cientistas que avalia a relação entre eventos meteorológicos extremos e os transtornos do clima.

Os países do Chifre da África (Etiópia, Eritreia, Somália, Djibouti, Quênia e Sudão) enfrentam desde o fim de 2020 a pior seca nesta enorme península do leste continente em quatro décadas.

Pessoas seguram vaca em uma paisagem de deserto
Moradores do distrito de Adadle, na Somália, socorrem vaca doente em razão da seca - Michael Tewelde/World Food Programme via Reuters

Cinco temporadas de chuvas insuficientes dizimaram o gado e destruíram as plantações.

De acordo com a ONU, quase 22 milhões de pessoas estão ameaçadas pela fome na Etiópia, Quênia e Somália, um país que também enfrenta uma insurreição islâmica.

De acordo com os 19 cientistas que elaboraram o relatório, a mudança climática teve "pouco efeito nas chuvas anuais recentes", mas influenciou muito na elevação das temperaturas, o que acelera a evapotranspiração (a evaporação de água do solo para a atmosfera) e resulta em um ressecamento recorde dos solos e das plantas.

"Foi por causa da mudança climática que esta seca se tornou tão grave e excepcional", resumiu a climatologista Joyce Kimoutai, que está no grupo que redigiu o documento.

A rede WWA é uma organização respeitada por sua capacidade de demonstrar os vínculos entre fenômenos meteorológicos extremos e o aquecimento global.

Seus resultados não seguem o longo processo de publicação das revistas científicas e são elaborados com base em uma metodologia científica. Neste caso, a WWA baseou seu estudo em três das áreas mais afetadas do Chifre da África: o sul de Etiópia e Somália e o leste do Quênia.

A rede verificou que nesses territórios a mudança climática alterou as duas estações chuvosas de forma oposta. Ou seja, a estação mais chuvosa "tornou-se mais seca e um déficit de chuvas foi duas vezes mais provável", enquanto "a estação curta tornou-se mais úmida".

O relatório destaca que a mudança climática está afetando os períodos de chuva de maneiras opostas. A estação mais prolongada de chuvas "tornou-se mais seca e um déficit de precipitações é duas vezes mais provável", enquanto "a estação curta ficou mais úmida".

Nos últimos anos, no entanto, "a tendência úmida da temporada curta foi acobertada pelo fenômeno climático La Niña", que diminui as chuvas tropicais e para o qual não há evidências de que seja influenciado pela mudança climática.

Além dessa convergência de fatores, concluem os cientistas, o aumento das temperaturas levaram ao ressecamento recorde de solos e das plantas, resultando em uma sucessão de cinco temporadas de secas históricas.

"A mudança climática é uma condição necessária para que uma seca tão grave aconteça", ressaltam.

Raras até agora, essas secas têm 5% de probabilidade de se repetir a cada ano, segundo o relatório.

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