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Equipe da COP28 forma aliança da indústria de petróleo e gás antes da cúpula do clima

Metas descritas na carta inicial não abordam as emissões mais prejudiciais do setor

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Attracta Mooney Camilla Hodgson
Londres | Financial Times

Uma nova aliança do setor de petróleo e gás está sendo organizada pela equipe da COP28, a cúpula do clima da ONU nos Emirados Árabes Unidos, mas os primeiros esboços de suas metas de combate ao aquecimento global não incluem a maior parte das emissões decorrentes do uso de combustíveis fósseis.

Anunciada como uma iniciativa emblemática da COP28, a chamada provisoriamente de Aliança Global pela Descarbonização estabelecerá a meta de alcançar emissões líquidas zero até 2050 a partir de emissões diretas e emissões derivadas da energia que as empresas compram, conhecidas como escopo 1 e 2, diz a carta inicial vista pelo Financial Times.

No entanto, o quadro descrito na carta não inclui uma meta para as chamadas emissões de escopo 3, ou emissões indiretas, que constituem de longe a maior porcentagem da poluição do setor.

Retrato de Sultan al-Jaber discursando; ao fundo há o logotipo do evento
O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, no evento Petersberg Climate Dialogue, na Alemanha; ele também é ministro da Indústria e Tecnologia e chefe da gigante estatal do petróleo Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) - John Macdougall - 3.mai.2023/AFP

A questão central dessas emissões foi abordada por Sultan al-Jaber, presidente designado da COP28 e chefe da estatal Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, em um discurso na conferência de energia CERAWeek, em março.

Ele disse ao encontro que a indústria de petróleo e gás "tem a capacidade e os recursos para ajudar todos a lidar com as emissões do escopo 3". O setor "precisa reforçar o jogo, fazer mais e mais rápido".

As empresas responsáveis por quase metade da produção global de petróleo e gás anunciaram individualmente planos ou metas para reduzir as emissões dos escopos 1 e 2, "apenas uma fração" das quais eram suficientemente ambiciosas, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

"É difícil ver muita descarbonização na Aliança Global pela Descarbonização", disse Thomas Hale, diretor do grupo de pesquisa independente Net Zero Tracker, acrescentando que qualquer iniciativa da COP "verossímil" sobre petróleo e gás deve abordar as emissões do escopo 3.

"Os Emirados Árabes Unidos, como produtores de petróleo e gás, têm uma grande oportunidade de ser a força transformadora para reunir toda a indústria para levar esse desafio a sério."

Espera-se que um workshop privado ocorra nesta semana nos Emirados Árabes Unidos, onde a aliança e a estrutura provisória serão discutidas.

A COP28 disse que não comentaria documentos vazados.

A carta recente descrevendo as metas foi endereçada aos parceiros da indústria da COP e enviada por Samir Elshihabi, líder de transição energética da COP28, que trabalhou na Occidental Petroleum em Abu Dhabi.

"Nosso objetivo é atingir emissões líquidas zero (escopos 1 e 2) sob nosso controle e trabalhar com parceiros para alcançar o mesmo em ativos não operados, até ou antes de 2050", afirmou.

Embora não inclua menção a uma meta quantificável para as emissões do escopo 3, o documento diz que os apoiadores da planejada aliança serão solicitados a apoiar uma "ambição" de trabalhar com clientes, parceiros e outras indústrias intensivas em energia para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Ela estabelece metas progressivas para o metano na produção a jusante. O metano é o principal componente do gás e um potente fator do aquecimento global que pode vazar durante a produção e a distribuição. Estima-se que seja responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura global desde a Revolução Industrial, com a indústria de energia representando cerca de um terço do metano induzido pelo homem.

A carta propunha uma meta para acabar com toda a queima de rotina, na qual o gás produzido durante a produção de petróleo é queimado, em vez de coletado.

Bomba de petróleo em meio a dunas de areia com uma montanha árida no fundo
Extração de petróleo em dunas do deserto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos - Giuseppe Cacace - 30.ago.2022/AFP

"Nosso objetivo é zero queima de rotina e quase zero emissões de metano até 2030 em nossas operações a jusante", afirmou, sem fazer referência ao metano em médio curso ou a operações de oleoduto.

A Iniciativa Climática de Gás e Petróleo, lançada em 2014, apoiada por Saudi Aramco, BP, ExxonMobil e outras grandes empresas do setor, já tem uma meta declarada semelhante de zero emissões de metano.

A iniciativa apoiada pelos Emirados Árabes Unidos inclui a proposta de que as empresas de petróleo e gás da aliança devem ter como objetivo medir, verificar e relatar seu progresso no corte de emissões e planos de investimento sobre como fazê-lo, inicialmente focados em 2030.

O petroestado sempre disse que quer colocar os produtores de combustíveis fósseis no centro dos esforços de combate às mudanças climáticas.

Nas negociações de Petersberg, na Alemanha, há duas semanas, com a presença de mais de 40 representantes de países, Jaber disse que os combustíveis fósseis "continuariam a desempenhar um papel no futuro previsível" e enfatizou o uso da captura e armazenamento de carbono para coletar emissões de indústrias altamente poluentes, tecnologia ainda a ser comprovada em escala.

Um resumo oficial das negociações de Berlim disse que houve "muita discussão" entre os representantes sobre até que ponto a captura e o armazenamento de carbono (CCS) devem ser implantados no setor energético.

"Cautela" foi a expressão usada por alguns sobre "o custo, prazos pouco claros, possibilidade de atrasar a transição e impactos ambientais" de emparelhar CCS com combustíveis fósseis, disse.

Nas discussões sobre o aumento da energia renovável, "alguns" países enfatizaram a necessidade de "substituir" combustíveis fósseis por fontes limpas de energia, observou o resumo.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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