Mundo bate recorde de calor pelo segundo dia consecutivo nesta terça-feira (4)

Temperatura chegou a 17,18°C, superando a marca alcançada na segunda-feira

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São Paulo e Londres

O calor extremo chegou a um novo recorde nesta terça-feira (4), atingindo 17,18°C. Foi a segunda marca batida em dois dias: na segunda-feira (3), a média de temperatura global tinha alcançado 17,01°C, superando o maior índice registrado pelos cientistas até então, de 16,92°C, em 2016, e que se repetiu em 2022.

Dados do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, ligado à Administração Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), indicam que a anomalia (ou seja, quanto a temperatura registrada foge do padrão histórico para este dia) do recorde mais recente chegou a 0,98°C.

A culpa pelas altas temperaturas vistas não só nestes dias, mas ao longo das últimas semanas, está na soma de dois fatores: as mudanças climáticas provocadas pela ação humana e o início do El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico, perto da linha do Equador.

Mulher caminha enquanto se protege do sol com a mão
Mulher caminha enquanto se protege do sol com a mão à medida que altas temperaturas continuam a assolar Monterrey, no México - Daniel Becerril - 28.jun.2023/Reuters

A média de temperatura global é puxada pelo verão do hemisfério norte, que começou no final de junho e vai até o final de agosto. Assim, é possível que esse tipo de situação se repita até o final da estação.

No último dia 15, o serviço de observação europeu Copernicus apontou que o começo de junho foi o mais quente já registrado e que o recorde foi superado por uma "margem substancial". O índice foi precedido por um mês de maio em que a temperatura da superfície oceânica também foi recorde.

Mapa de calor do novo recorde de temperatura global, em 4 de julho de 2023
Mapa global indica as temperaturas em 4 de julho de 2023, quando novo recorde de calor foi registrado no planeta - NCEP/Climate Change Institute/University of Maine

O físico Paulo Artaxo, professor da USP e um dos membros do IPCC, o Painel Internacional para Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, explica que números como esses apontam para um verão mais severo do que o previsto.

"O alerta sobre o mês de junho ter sido o mais quente de toda a série temporal mostra uma tendência de médio e de longo prazo", afirma. "Muito provavelmente o verão no hemisfério norte vai ser mais quente do que o esperado."

O cientista acrescenta que isso deve acender um alerta também para o Brasil.

"O Brasil tem uma vulnerabilidade muito grande para as mudanças climáticas, particularmente por ser situado em uma região tropical —ou seja, já está nas áreas mais quentes do planeta. Uma coisa é aumentar 3°C ou 4°C [na média de temperatura] no Brasil e outra 3°C ou 4°C na Suécia. A nossa vulnerabilidade é muito maior", diz, fazendo referência aos cenários de aquecimento mais acentuado traçados pelo IPCC.

Silêncio diplomático

Reunidos em Londres para revisar as metas climáticas do transporte marítimo, países-membros da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) não repercutiram os recordes de temperatura nas discussões, que buscam decidir justamente se o setor terá um compromisso alinhado a limitar o aquecimento global em até 1,5°C ou até 2°C.

A diferença de meio grau na temperatura média global —uma variação aceita pelo Acordo de Paris— tem efeitos drásticos para os países-ilha, que já lidam com a perda de território devido ao aumento do nível do mar.

"É tão triste que todos esses sinais de que nós excedemos o uso de combustíveis fósseis foram normalizados", afirmou à Folha o enviado especial pela descarbonização dos navios das Ilhas Marshall, Albon Ishoda.

As Ilhas Marshall estão à frente da proposta de cobrar US$ 100 por tonelada de carbono emitida por navios, como forma de financiar os custos da transição climática nos países mais vulneráveis. A proposta é uma das principais medidas discutidas nesta semana na IMO, que deve chegar a uma decisão até sexta-feira (07).

"Aqui estamos negociando por interesses nacionais e lucros, mas nós precisamos tornar o planeta mais seguro. Queremos humanizar as negociações", acrescenta Ishoda.

Para Ana Laranjeira, gerente de transporte marítimo da ONG Opportunity Green e observadora das negociações da IMO, "informações assustadoras como a dos recordes de temperatura e as dos relatórios do painel científico da ONU não são consideradas aqui nas negociações".

"Se fossem, nós já teríamos concordado em limitar o aquecimento global a 1,5°C, e não me parece que isso vai acontecer", avalia.

Calor extremo ao redor do mundo

O sul dos Estados Unidos tem sofrido nas últimas semanas com um domo de calor, nome dado ao fenômeno que ocorre quando a atmosfera retém o ar quente e forma uma espécie de tampa em uma determinada região.

Na China, uma onda de calor persistente tem levado a temperaturas acima de 35°C, e o norte da África tem registrado quase 50°C.

Até mesmo a Antártida, no inverno, registrou temperaturas anormalmente altas neste ano. A base de pesquisa Vernadsky, da Ucrânia, nas ilhas Argentinas, recentemente quebrou seu recorde de temperatura em julho, com 8,7°C.

A jornalista Ana Carolina Amaral viajou a convite do Global Strategic Communications Council (GSCC).

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