'Você acha que vim aqui para discutir isso?', diz Lula sobre acelerar liberação de petróleo na Amazônia

Presidente chegou a Belém nesta segunda (7) para participar da cúpula ambiental que reunirá líderes

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Belém

Na chegada a Belém para participar da Cúpula da Amazônia, nesta segunda (7), o presidente Lula (PT) não respondeu se pretende apressar o processo de licenciamento de petróleo no bioma. "Você acha que eu vim aqui para discutir isso agora?", disse, ao ser questionado por jornalistas na chegada ao hotel em que ficará hospedado na capital paraense.

A cúpula reunirá líderes dos oito países da Amazônia nos dias 8 e 9 de agosto, além de autoridades de outras nações detentoras de grandes florestas tropicais (Congo, República Democrática do Congo e Indonésia).

Lula é fotografado de costas, discursando para o público que levanta celulares para fotografá-lo
O presidente Lula (PT) durante passagem por Santarém (Pará) antes de chegar a Belém para a Cúpula da Amazônia - Ricardo Stuckert - 7.ago.2023/Folhapress

A inclusão de uma moratória à exploração de petróleo na Amazônia no texto final do encontro tem sido um ponto de impasse, especialmente entre os presidentes da Colômbia e do Brasil. Enquanto Gustavo Petro defende a ideia, Lula não quer assumir o compromisso, propondo que o foco do acordo seja o fim do desmatamento até 2030.

Abrir poços na bacia da Foz do Amazonas, na chamada margem equatorial brasileira, é um objetivo da Petrobras, do Ministério de Minas e Energia e até do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A estatal busca junto ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovavéis) liberação para furar o fundo do mar na região para aferir o estoque de combustíveis fósseis que pode existir ali.

O instituto já negou a autorização, após demonstrar preocupação com as atividades da petroleira em uma região de vulnerabilidade socioambiental. A Petrobras recorreu da decisão, que está sob nova análise do órgão fiscalizador.

A extração de petróleo na Amazônia tem sido um dos focos dos debates em Belém nos últimos dias. De sexta a domingo a cidade sediou os Diálogos Amazônicos, que reuniu a sociedade civil e contou com vários protestos contra a ampliação da fronteira petroleira na floresta.

Na última semana, Lula disse que quer continuar sonhando com a atividade petroleira na região.

"Eu vou dizer para vocês que vocês podem continuar sonhando e eu também quero continuar sonhando. Nós tínhamos a Petrobras com uma plataforma preparada para fazer pesquisa nessa região. Houve um estudo do Ibama que dizia que não era possível, mas esse estudo do Ibama não é definitivo, porque eles apontam falhas técnicas que a Petrobras tem o direito de corrigir. Estamos discutindo isso", afirmou em entrevista a rádios amazônicas.

O tema provocou uma divisão em seu governo, opondo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de um lado, e o titular das Minas e Energia, Alexandre Silveira, além do núcleo político, do outro.

A ampliação da exploração de combustíveis fósseis tem sido fortemente defendida por Silveira, que também está em Belém. Nesta segunda-feira, no saguão do hotel onde Lula está hospedado, ele afirmou que não existe um desentendimento sobre o assunto no governo.

"Essas coisas têm que ser colocadas em formas extremamente equilibradas. Não há divergência no governo, o que há é um debate natural, onde vai se buscar um consenso. Tenho absoluta convicção que esse consenso será auferido de forma adequada", disse.

O ministro disse, ainda, que é um direito dos brasileiros e brasileiras conhecer suas capacidades minerais "seja de petróleo, gás, seja dos minerais críticos das terras raras". "O que não é, na minha opinião, admissível, é que a gente não tenha o direito de conhecer as nossas potencialidades", acrescentou.

As posições recentes sobre a exploração de combustíveis fósseis vão na contramão do discurso climático adotado por Lula durante a campanha.

A ampliação da exploração de combustíveis fósseis tem sido fortemente defendida por Silveira, o que vai na contramão do discurso climático adotado por Lula durante a campanha.

Para zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, nenhum novo projeto de extração de combustível fóssil deveria ser autorizado, segundo a Agência Internacional de Energia. Atingir essa meta é um dos passos mais importantes para cumprir o Acordo de Paris, limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar os efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas.

A repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.

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