Chefe de órgão científico da ONU teme chance reduzida de manter aquecimento global em 1,5°C

No cenário atual, probabilidade de atingir a meta do Acordo de Paris é inferior a um terço, diz novo presidente do IPCC

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Financial Times

As chances de o mundo limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C desde os tempos pré-industriais são agora menores do que um terço, uma queda em relação ao último relatório do órgão de ciência climática da ONU, no qual a chance era de 50%, disse o seu novo presidente.

O acadêmico britânico Jim Skea, que assumiu como presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês), afirmou que o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa desde o relatório de 2021 reduziu as chances de conter o aquecimento global.

Pelo Acordo de Paris, de 2015, quase 200 países concordaram em limitar o aumento da temperatura global em bem abaixo de 2°C —e idealmente em 1,5°C.

O relatório do IPCC de dois anos atrás apresentou cenários que limitariam o aquecimento a 1,5°C, com a probabilidade de atingir essa meta variando de 33% a 50%.

Homem de cabelo e barba brancos apoia rosto na mão esquerda com expressão séria, usando fones de ouvido
Jim Skea em sessão da ONU em Genebra, então como delegado britânico no IPCC (painel científico da ONU sobre mudanças climáticas) - Fabrice Coffrini - 2.ago.2019/AFP

As emissões de dióxido de carbono provenientes da energia, o maior contribuinte para o aquecimento global, continuaram a aumentar para um recorde histórico no ano passado, de acordo com a Agência Internacional de Energia, e espera-se que aumentem ainda mais este ano.

"Não vimos as reduções de emissões que esses cenários [da pesquisa anterior] supuseram. Então deve ser menos de 33% agora", disse Skea ao Financial Times.

Skea, que é coautor do relatório definitivo do IPCC em 2018, que delineou as diferenças marcantes nos resultados a 1,5°C e 2°C, disse que a meta de 1,5°C não está completamente fora de alcance, mas está escapando à medida que as emissões aumentam.

"Ainda é possível que o aquecimento fique abaixo de 1,5°C. Mas a cada ano que continuamos emitindo os níveis que estamos no momento, isso está se tornando cada vez menos provável."

As emissões de gases de efeito estufa devem diminuir quase pela metade até 2030 para limitar o aquecimento global a 1,5°C. As temperaturas já aumentaram pelo menos 1,1°C, constatou o IPCC.

Skea disse que a pesquisa do IPCC descobriu que há uma "imagem mais otimista" sobre a capacidade de limitar o aumento da temperatura para 2°C, ao mesmo tempo em que observa que "cada fração de grau é importante".

O relatório do IPCC do qual ele é coautor encontrou uma diferença vasta entre as consequências de um aquecimento global de 1,5°C e 2°C. Em temperaturas mais altas, praticamente não restariam recifes de coral, os rendimentos das colheitas sofreriam reduções muito maiores e uma proporção muito maior da população mundial estaria exposta a calor extremo ao longo de cinco anos.

Skea também expressou preocupações sobre as temperaturas extremas observadas até agora em 2023, colocando-o no caminho para ser o ano mais quente desde o início dos registros.

"O que estamos vendo são coisas que foram projetadas nos cenários do IPCC, mas parecem ter acontecido muito mais rapidamente do que qualquer um previa", disse ele.

Embora um ciclo climático El Niño, que aumenta as temperaturas, tenha começado este ano e haja uma variabilidade natural entre os anos, ele disse que os cientistas expressaram "espanto" com os picos de temperatura observados até agora.

"Alguns dos números que estamos vendo estão simplesmente fora do mapa", ele disse.

Skea liderará o IPCC pelos próximos cinco a sete anos e produzirá uma série de relatórios até o fim do ciclo atual em 2030. O foco da maioria dos relatórios ainda não foi decidido, mas haverá um sobre cidades.

Ele disse que a pesquisa deve levar em consideração o próximo "global stocktake" (inventário global das metas climáticas) que ocorrerá daqui a cinco anos, quando os países avaliam o progresso que fizeram na redução das emissões.

A avaliação deste ano, a primeira desde o Acordo de Paris, já mostrou que o mundo está muito longe de cumprir suas metas de limitar o aumento da temperatura.

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