Descrição de chapéu Planeta em Transe pantanal

Incêndios colocam animais do pantanal em risco; veja fotos

Com o fogo, fauna passa pelo chamado 'período da fome cinzenta', quando não há oferta de alimento

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Poconé (MT) | AFP

Gigantescas nuvens de fumaça irrompem de uma floresta carbonizada, cuja fauna, incluindo as onças-pintadas, estão em perigo: uma nova onda de incêndios tem causado causam estragos no pantanal, bioma que é considerado a maior área úmida do mundo.

A região é atingida por incêndios há várias semanas. Satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectaram 2.256 focos nesta área de 1º a 12 de novembro, 11 vezes mais do que durante o mesmo mês em 2022.

Às margens da Transpantaneira, uma estrada de terra que atravessa o pantanal, uma área que deveria estar completamente alagada nesta época do ano foi reduzida a um pequeno lago.

Alguns jacarés tentam nadar, enquanto outro já está sem vida fora da água. Dezenas de moscas voam sobre o cadáver em decomposição.

Jacaré morto na beira de uma lagoa
Jacaré morto em Porto Jofre (MT), região do pantanal que sofre com incêndios nas últimas semanas - Rogerio Florentino - 11.nov.2023/AFP

O cenário de destruição continua com um ouriço-cacheiro morto sobre um tapete de cinzas em uma área arborizada completamente carbonizada.

"Provavelmente esse animal morreu com a inalação da fumaça", disse Aracelli Hammann, veterinária do grupo de voluntários Grad (Grupo de Resgate de Animais em Desastres).

Hammann está no Parque Estadual Encontro das Águas, uma das regiões mais afetadas em Mato Grosso, onde existe a maior concentração de onças-pintadas do mundo.

De acordo com dados recolhidos pela ONG ICV (Instituto Centro de Vida), 32% da superfície do parque foi atingida pelas chamas que destroem a vegetação há mais de um mês.

A outra importante frente de incêndio está no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense. Quase um quarto de sua superfície foi queimada.

A situação "está totalmente fora de controle", lamenta Gustavo Figueiroa, biólogo e diretor de comunicação do instituto SOS Pantanal. "Está vindo de encontro com outro foco maior ainda. Essa onda de calor e ventos fortes, com certeza, vão piorar muito a situação."

Para ele, "os impactos são tão grandes que é até difícil de mensurar".

"Apesar de o Pantanal ser um bioma acostumado com o fogo, que tem uma capacidade de regeneração natural, com essa intensidade, essa frequência [de incêndios], a janela vai se fechando", acrescenta ele.

Segundo especialistas, os incêndios são causados, sobretudo, pela ação humana, em especial por conta de queimadas para expandir terras agrícolas, mas a situação se agravou no final deste ano devido à uma seca excepcional.

"Vimos vários animais mortos, como insetos, répteis, anfíbios, pequenos mamíferos, que não têm capacidade de fugir. Eles fazem parte de uma teia alimentar e a morte de cada animal causa um efeito dominó, até chegar no predador topo de cadeia, como a onça-pintada", relatou o especialista.

Em uma clareira na floresta, macacos correm atrás de bananas e ovos deixados por voluntários.

Com as chamas, os animais passam "pelo período da fome cinzenta, quando não tem oferta de alimento natural na área", explica Jennifer Larreia, presidente da associação É o Bicho-MT.

Durante os incêndios históricos que devastaram a região em 2020, a ONG distribuiu 300 toneladas de frutas em cinco meses.

O pantanal está localizado em uma região de mais de 170 mil km², ao sul da Amazônia, e se estende por Brasil, Bolívia e Paraguai.

De acordo com a ONG WWF, o bioma abriga 656 espécies de aves, 159 mamíferos, 325 peixes, 98 répteis, 53 anfíbios e mais de 3.500 espécies de plantas.

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