Entenda o que já foi negociado e as disputas em aberto na COP28

Último rascunho traz 4 opções de texto para falar de combustíveis fósseis, que vão de 'eliminação' até mero fim de subsídios 'ineficientes'

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Dubai

O que era um elefante na sala virou o centro das atenções da COP28, conferência do clima da ONU: o abandono dos combustíveis fósseis, principais causadores da crise climática.

Sediada pelos Emirados Árabes, a COP28 começou com a acusação por parte dos movimentos socioambientais de que o chefe da petroleira Adnoc, Sultan al-Jaber, teria conflito de interesses ao assumir a presidência da cúpula.

A indignação da comunidade internacional e o embaraço que ela causou à Convenção-Quadro do Clima da ONU (UNFCCC, na sigla em inglês) resultaram em uma abertura inesperada nas negociações para discutir o declínio dos combustíveis fósseis, que entrou no rascunho do balanço global —principal item em negociação— desde o primeiro dia da conferência.

O último rascunho do texto, apresentado na terça-feira (5), mantém quatro opções de linguagem sobre o abandono ou a diminuição dos combustíveis fósseis.

O Brasil defende que o declínio dos combustíveis fósseis aconteça primeiro e de forma prioritária nas nações desenvolvidas e propôs que o texto em negociação reflita essa diferença de responsabilidades, um dos princípios da convenção.

Três pessoas negras seguram cartazes que dizem 'end fossil fuels'
Ativista Vanessa Nakate, de Uganda (ao centro), protesta na COP28, em Dubai, com outros manifestantes pelo fim dos combustíveis fósseis - Thomas Mukoya - 5.dez.2023/Reuters

Grandes economias emergentes, principalmente Índia e China, resistem a um texto que determine a eliminação do carvão. Já a Rússia marca posição contrária à eliminação dos fósseis e busca promover o gás, um combustível fóssil, como uma alternativa de baixo carbono, comparando-o ao petróleo e ao carvão.

Já os países mais vulneráveis, principalmente o bloco das pequenas ilhas, falam na eliminação completa dos combustíveis fósseis.

A União Europeia e os Estados Unidos têm defendido a eliminação dos combustíveis fósseis não compensados (ou seja, cujas emissões não puderem ser reduzidas). Para os americanos, também é importante destacar as emissões do gás metano —que, por ter alto potencial de efeito estufa e curta duração na atmosfera, pode fazer a diferença no curto prazo.

A primeira semana de COP terminou com 64 itens de agenda em negociação, outros 20 itens ainda sem texto e apenas 5 já acordados, segundo monitoramento do portal Carbon Brief.

Nesta sexta-feira (8), os ministros do Meio Ambiente dos países sobem ao palco para discursar no diálogo de alto nível, que estreia o nível ministerial das negociações —quando os chefes das pastas de meio ambiente e clima ajudam a destravar os nós políticos para as possíveis decisões da COP. A conferência deve chegar a uma conclusão até o próximo dia 12.

Entenda abaixo o status da negociação das principais agendas da COP28.

Balanço global

Principal documento que deve sair da COP28, o balanço global é uma avaliação dos esforços dos países na implementação do Acordo de Paris. Além do diagnóstico, ele deve trazer recomendações para a revisão das metas climáticas nacionais.

O último rascunho tem 26 páginas. A maior parte dos parágrafos ainda tem pelo menos duas opções de texto, mantendo possibilidade de linguagens mais frouxas e outras mais comprometidas.

Rumo para novas metas

O balanço global é especialmente relevante para o Brasil, já que as recomendações do documento devem dar lastro para a presidência da COP30, que acontece no Brasil em 2025, justamente quando os países devem apresentar novas metas climáticas (as chamadas NDCs, sigla em inglês para contribuições nacionalmente determinadas) para o Acordo de Paris.

O Brasil busca firmar a contenção do aquecimento global em torno de 1,5°C como novo horizonte para as metas climáticas dos países. O número aparece em 14 parágrafos do texto.

O primeiro deles diz que os países expressam séria preocupação com o fato de 2023 ser o ano mais quente da história e com a aceleração dos impactos das mudanças climáticas, enfatizando a necessidade de ação urgente para manter o objetivo de 1,5°C e tratar a crise climática nesta década crítica.

Abandono de combustíveis fósseis

O último rascunho traz quatro opções de texto. A primeira aponta "uma ordenada e justa eliminação gradual dos combustíveis fósseis". Já a segunda aponta uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis não compensados até a metade do século.

Outra opção cita o painel do clima da ONU em defesa da eliminação do carvão não compensado, enquanto a última alternativa se limita a propor a eliminação dos subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis —uma linguagem dúbia que já havia sido usada na COP26.

Renováveis e eficiência

Ainda dentro do balanço global, países rascunham o compromisso de triplicar as energias renováveis no mundo até 2030, chegando a uma capacidade instalada de 11 mil GW, e duplicar a eficiência energética no mundo no mesmo período, a uma taxa de aumento de 4% da eficiência ao ano.

Em um anúncio político fora das negociações, 116 países, incluindo o Brasil, já prometeram se engajar no feito.

Fundo de perdas e danos

Adotado no primeiro dia da COP28, o fundo de perdas e danos, criado no ano passado, ganhou definições de funcionamento já na abertura em Dubai. A gestão nos primeiros quatro anos será feita pelo Banco Mundial, mas de acordo com os critérios deliberados por um conselho a ser formado segundo os princípios da Convenção-Quadro do Clima da ONU.

A começar com a doação de US$ 100 milhões dos anfitriões, os Emirados Árabes, o fundo soma US$ 700 milhões arrecadados nesta primeira semana de COP.

O valor ainda fica bem abaixo do tamanho do prejuízo que os países mais vulneráveis ao clima já acumulam. As estimativas variam de US$ 100 bilhões a US$ 580 bilhões de perdas por ano. Os países em desenvolvimento pedem que o fundo tenha uma arrecadação anual de US$ 100 bilhões.

Fundo de adaptação

Criado em 2021 para financiar as ações de adaptação à crise climática, o fundo não teve qualquer avanço nas negociações ao longo da semana.

A agenda sofre bloqueio de países em desenvolvimento e do grupo árabe, que argumentam sobre a diferença de responsabilidade que mantêm em relação às nações desenvolvidas. Por outro lado, novas promessas de doações de países somaram US$ 166 milhões para o fundo.

A repórter Ana Carolina Amaral viajou a convite de Avaaz, Instituto Arapyaú e Internews.

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