Descrição de chapéu mudança climática

Ministra Marina Silva defende limite para exploração de petróleo

Comentários contrastam com o plano do governo de se tornar um grande exportador de petróleo até 2029

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Bryan Harris Beatriz Langella
São Paulo | Financial Times

O Brasil deve considerar limitar a produção e a exploração de petróleo, disse a ministra do meio ambiente do país, colocando-se em oposição aos próprios planos do governo de transformar a nação em um dos maiores produtores de petróleo até 2029.

"Uma questão que terá que ser enfrentada é a dos limites, um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão que enfrentar", disse Marina Silva ao Financial Times.

Seus comentários refletem uma tensão nos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para jogar dos dois lados do debate climático –realçando as credenciais ambientais do Brasil na proteção da ecologia crucial da Amazônia, ao mesmo tempo em que apoia a perfuração de petróleo pelos benefícios econômicos. O Ministério de Energia estabeleceu a meta de aumentar a produção de 3 milhões de barris por dia no ano passado para 5,4 milhões até o final da década.

Ministra Marina Silva (Meio Ambiente) durante evento sobre floresta amazônica; ela defende limite para exploração de petróleo - Evaristo Sá - 12.out.23/AFP

Nascida na floresta amazônica e criada por seringueiros empobrecidos, Marina Silva, 65, é hoje uma das ambientalistas mais respeitadas do mundo. Sua nomeação como ministra no início deste ano pelo presidente Lula foi saudada como um símbolo do compromisso do Brasil com a proteção ecológica e a transição verde.

Mas sua missão enfrenta obstáculos até mesmo dentro da administração de esquerda, especialmente do Ministério de Energia e da Petrobras estatal, que esperam aproveitar novos campos gigantes offshore para aumentar a produção de petróleo.

O plano de energia tornaria o Brasil o quarto maior produtor do mundo, à frente do Irã, Canadá e Kuwait. No início deste mês, o país se juntou ao grupo Opep+ –que compreende a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados –embora Lula tenha insistido que seu status permanecerá como observador.

"O Brasil é um produtor de petróleo. Este é um debate que terá que ser feito, mesmo no contexto de guerras. Estamos comprometidos com a meta de triplicar a energia renovável. Mas tudo isso não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites de exploração", disse Marina.

Alexandre Silveira, ministro de energia do Brasil, disse ao Financial Times que não via "nenhuma contradição" entre as metas de petróleo e gás do país e sua aspiração de liderar a transição mundial para a energia verde. Ele disse que as receitas do petróleo ajudariam a financiar a transição.

No entanto, o foco de Brasília em combustíveis fósseis tem provocado ceticismo internacional, especialmente porque Lula regularmente pede às nações ocidentais que assumam um maior ônus financeiro para proteger a Amazônia e o meio ambiente global.

"O Brasil disse uma coisa, mas fez outra na cúpula COP28 [em Dubai]. É inaceitável que o mesmo país, que afirma defender a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus, esteja anunciando sua alinhamento com o grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo", disse Leandro Ramos, do Greenpeace Brasil.

A ministra do meio ambiente acrescentou: "Não podemos desistir da transição energética. A segurança energética é necessária, mas também devemos pensar na transição. Ambas as coisas devem acontecer".

Lula disse que o envolvimento do Brasil na Opep+ se concentraria em convencer as nações ricas em petróleo a investir em alternativas.

Nos primeiros nove meses deste ano, seu governo conseguiu reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia em cerca de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado. A crescente destruição da floresta tropical sob a administração anterior de Jair Bolsonaro havia provocado censura internacional.

Marina, no entanto, disse que não reivindicaria a vitória.

"Temos metas setoriais. Não é apenas o desmatamento. Também é energia, indústria, transporte, uso da terra e agricultura. Todos esses têm metas de redução de CO₂", disse ela. "Não podemos nos resignar aos resultados já alcançados porque, por melhores que sejam, eles precisarão ser melhorados".

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