YouTube está lucrando com nova cruzada de negacionismo climático, diz grupo de monitoramento

Conteúdo foca em atacar soluções climáticas, retratar o aquecimento global como inofensivo e dizer que ambientalistas não são confiáveis

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Nichola Groom
Reuters

O YouTube está ganhando milhões de dólares por ano com publicidade em canais que fazem afirmações falsas sobre mudança climática. Os criadores de conteúdo estão usando novas táticas que driblam as políticas da plataforma para combater a desinformação, de acordo com um relatório publicado nesta terça-feira (16).

O CCDH (sigla em inglês para Centro de Combate ao Ódio Digital) usou inteligência artificial para analisar as transcrições de 12.058 vídeos dos últimos seis anos em 96 dos canais do YouTube, da Alphabet. Segundo o documento, os canais promoveram conteúdo que minimiza o consenso científico de que o comportamento humano está contribuindo para mudanças de longo prazo nos padrões de temperatura e clima.

Ilustração mostra um smartphone com a logo do YouTube sobreposta a uma placa mãe
Vídeos de negacionistas climáticos estão driblando as políticas de desmonetização do YouTube - Ilustração de Dado Ruvic/Reuters

A análise do CCDH, uma organização sem fins lucrativos que monitora o discurso de ódio online, constatou que o conteúdo de negacionismo climático se distanciou das falsas alegações de que o aquecimento global não está acontecendo ou que não é causado pelos gases de efeito estufa produzidos pela queima de combustíveis fósseis. De acordo com a política do Google, vídeos que defendem tais afirmações são explicitamente proibidos de gerar receita com anúncios no YouTube.

Em vez disso, o relatório constatou que, no ano passado, 70% do conteúdo de negacionismo do clima nos canais analisados se concentrou em atacar as soluções climáticas, dizendo que são inviáveis, retratar o aquecimento global como inofensivo ou benéfico, ou apresentar a ciência climática e o movimento ambiental como não confiáveis. Isso representa um aumento de 35% em relação aos cinco anos anteriores.

"Uma nova frente se abriu nessa batalha", disse Imran Ahmed, chefe-executivo do CCDH. "As pessoas que estamos observando passaram de dizer que a mudança climática não está acontecendo para dizer agora: 'Ei, a mudança climática está acontecendo, mas não há esperança. Não há soluções'".

O YouTube está ganhando até US$ 13,4 milhões (R$ 66 milhões) por ano com anúncios nos canais que o relatório analisou, segundo o CCDH. O grupo disse que o modelo de inteligência artificial usado foi criado para ser capaz de distinguir entre ceticismo razoável e informações falsas.

Em uma declaração, o YouTube não comentou diretamente sobre o relatório, mas defendeu suas políticas.

"O debate ou as discussões sobre tópicos de mudança climática, inclusive sobre políticas públicas ou pesquisas, são permitidos", disse um porta-voz do YouTube. "No entanto, quando o conteúdo ultrapassa o limite da negação da mudança climática, paramos de exibir anúncios nesses vídeos."

O CCDH solicitou que o YouTube atualize sua política sobre conteúdo de negacionismo climático e disse que a análise poderia ajudar o movimento ambientalista a combater alegações falsas sobre o aquecimento global de forma mais ampla.

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