Las Vegas vai receber cerca de mil jatinhos para Super Bowl, e nível de emissões de carbono pode dobrar

Em megaeventos, gases estufas provenientes do tráfego aéreo chegam a duplicar médias diárias, segundo pesquisador

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Gerald Narciso
The New York Times

Nada em Las Vegas é usado com moderação. Os prédios fluorescentes são altos e intencionalmente brilhantes. Nos cassinos, nas festas na piscina e na Strip, multidões de turistas brincam diariamente com seus níveis de tolerância ao álcool e limites do cartão de crédito.

Com o Super Bowl, o maior evento esportivo anual do país, acontecendo na cidade no domingo (11), espera-se que as multidões —são esperados cerca de 450 mil visitantes— e as festas fiquem ainda maiores e mais animadas.

Mas não são apenas os hotéis e cassinos que estarão movimentados nos dias que antecedem o grande jogo, entre o San Francisco 49ers e o atual campeão Kansas City Chiefs. Espera-se cerca de 1.000 aviões privados nos aeroportos da região de Las Vegas.

E isso significa muitas emissões de gases de efeito estufa.

Jatinhos no Aeroporto Internacional Harry Reid, em Las Vegas
Jatinhos no Aeroporto Internacional Harry Reid, em Las Vegas - Bridget Bennett - 24.ago.2017/The New York Times

"Os níveis de emissões de um megaevento como este, provenientes do tráfego aéreo e do consumo de energia, são pelo menos o dobro em um dia do que seriam em média", disse Benjamin Leffel, professor assistente de sustentabilidade em políticas públicas da Universidade de Nevada, Las Vegas.

O Super Bowl é uma das maiores atrações anuais para aviões nos Estados Unidos. Para o jogo do ano passado em Glendale, Arizona, houve 562 chegadas de aviões comerciais nos aeroportos da região.

Para o evento de 2022 em Los Angeles, houve 752 chegadas, de acordo com o rastreador de aviação comercial WingX.

Este ano, autoridades dizem que o Super Bowl pode igualar o Grand Prix de Las Vegas em novembro, para o qual o WingX relatou 927 chegadas de jatinhos nos três aeroportos da cidade.

"A expectativa é que o Super Bowl tenha um nível semelhante", disse Joe Rajchel, porta-voz do Departamento de Aviação do Condado de Clark, que abrange Las Vegas, em um email.

Um desses voos pode trazer Taylor Swift de um show em Tóquio para torcer por seu namorado, Travis Kelce, que joga pelos Chiefs. Ela tem pelo menos um jatinho à sua disposição que poderia fazer a viagem de 9.000 quilômetros.

O problema para ela é que os aeroportos de Las Vegas estarão tão movimentados que pode não haver um espaço de pouso disponível.

Quantificar as exatas emissões de dióxido de carbono de um grupo de aviões privados é desafiador. A maioria das autoridades municipais nos Estados Unidos, incluindo no Condado de Clark, não rastreia as emissões.

Um relatório de 2023 do Greenpeace estimou que as viagens de avião privado em todo o mundo emitiram 573 mil toneladas métricas de dióxido de carbono em 2022.

De acordo com Klara Maria Schenk, ativista do Greenpeace baseada em Viena, a estimativa usou um sistema de medição que se baseia em dados do WingX e da Ferramenta de Pequenos Emissores, uma calculadora desenvolvida pela Eurocontrol, a agência que gerencia o tráfego aéreo na Europa.

Mas é complicado estabelecer os parâmetros corretos e garantir consistência em torno de enormes quantidades de dados de aviação.

"Pode haver pequenos erros", disse Schenk. "Mas, em geral, se você tiver todos esses dados, poderá calcular, com base nos melhores padrões científicos, as emissões das máquinas."

Para comparação, a equipe de Schenk calculou que os 1.040 voos de jatos privados que pousaram em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial do ano passado produziram emissões de dióxido de carbono equivalentes a 350 mil carros em uma semana.

Las Vegas já enfrenta desafios energéticos, de calor e de seca. Essas questões, juntamente com as emissões e a poluição dos aviões privados, estão levantando preocupações entre alguns moradores locais.

Jaime Brousse leva seus dois filhos, que estão na escola primária, para assistir a jatos executivos elegantes decolarem e pousarem no aeroporto executivo de Henderson, cerca de 20 quilômetros ao sul de Las Vegas. Ela notou um aumento de aviões privados e poluição durante o recente evento da Fórmula 1.

"É fácil ver a camada de smog sobre a cidade", disse Brousse, 42. "Eu sei que a maior parte disso vem dos carros, mas não dá para deixar de pensar que todos esses jatos privados provavelmente não estão ajudando."

Leffel, da Universidade de Nevada, disse que estava preocupado com as consequências além de Nevada. "Essa pequena margem acelera as mudanças climáticas", disse.

Quais poderiam ser as soluções? Existem regulamentações, que podem incluir impostos mais altos ou proibições de voos de aviões particulares.

Em nível local, o Brightline West, uma linha ferroviária elétrica de alta velocidade que conecta Los Angeles a Las Vegas em pouco mais de duas horas, é esperado como uma mudança ambiental significativa. Está programado para abrir em 2028.

Mas mesmo com essa alternativa, Leffel se pergunta: "Será que os 1% mais ricos vão usá-la?".

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