Turistas invadem gruta fechada em MT; há risco de degradação

Local está interditado desde 2002, mas fotos nas redes sociais mostram visitas ilegais

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Cuiabá

Considerada uma maravilha da natureza no Centro-Oeste, a gruta Lagoa Azul, no município de Nobres (151 km de Cuiabá), em Mato Grosso, vem sofrendo danos em razão de visitas clandestinas.

O local está interditado desde 2002, pelo risco de degradação, mas há turistas que visitam a gruta ilegalmente e publicam fotos e vídeos em redes sociais. O ritmo de invasões aumentou no último ano.

Procurada, a Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) reafirmou que as visitas ao local estão proibidas. A pasta diz haver sinalização avisando sobre a interdição e o risco.

Gruta com água azul
Interditada desde 2002, a gruta Lagoa Azul, em Nobres (MT), tem sido invadida por turistas que publicam imagens em redes sociais - Divulgação

Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público de Mato Grosso vêm recebendo reclamações sobre o ocorrido, já que há pichações e riscos nas rochas do local. Há placas antigas na gruta, quase apagadas, em que mal se lê "não entre na água".

No ano passado, o jogador Deyverson, atacante do Cuiabá Esporte Clube, postou em suas redes sociais uma foto com a esposa no local.

Procurada, a assessoria do jogador preferiu não comentar o episódio.

Casal se beijando na gruta
Jogador Deyverson, atacante do Cuiabá Esporte Clube, publicou foto com a mulher na gruta no ano passado - @deyverson no Instagram

As visitas ocorrem facilitadas por guias da região. Segundo vizinhos do local, até pessoas do município ignoram as placas informando que o lugar está proibido para visitações.

Na última quarta-feira (13), uma fotógrafa publicou em suas redes sociais um ensaio fotográfico de um casal feito recentemente dentro da gruta, o que retomou a discussão sobre a necessidade fiscalização e preservação do local.

À Folha a fotógrafa, que pediu anonimato, afirmou que foi contratada para a realização do ensaio e só ficou sabendo depois que era proibida a visita. Segundo ela, não havia placas nem impedimento para chegar à gruta.

Pela quantidade de fotos no local publicadas em redes sociais, diz, a visita também lhe pareceu permitida.

Segundo a presidente do Conselho de Turismo de Nobres, Marcy dos Reis, o órgão tem cobrado as autoridades para que aumentem a fiscalização e a sinalização de que a visita é proibida.

Reis diz que o conselho sempre aciona a prefeitura quando há denúncias de visitas. "Defendemos que o Estado regularize o mais rápido possível e reabra o local, através de uma concessão ou que o próprio governo administre o local. Já são mais de 20 anos sem nenhuma solução."

A interdição da área começou em 1999, por meio de uma portaria do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Tinha como objetivo interromper o "avanço da degradação ambiental na gruta Lagoa Azul, devido ao uso turístico descontrolado e predatório", dizia o documento.

Em junho de 2000, o local passou a ser responsabilidade do estado de Mato Grosso, quando se criou o Parque Estadual Gruta da Lagoa Azul. Em 2002, foram interrompidas as visitações.

placa antiga apagada onde mal se lê "não entre na água"
Placa apagada de entrada na gruta; quase não é possível ler o aviso "não entre na água" - Reprodução

O promotor Willian Oguido Ogama afirma que o Ministério Público vem realizando diversas ações para impedir as visitas ilegais, como notificação dos guias, e busca soluções estruturais para o local, como a falta de servidores, regularização para a visitação, orientações, entre outras questões.

"Nós conseguimos reativar o conselho consultivo do parque e o estado indicou que iria regularizar a área para possibilitar a visitação legal. Para tanto, tem que seguir o Plano de Manejo Espeleológico. Outra demanda é que o parque possui áreas que ainda não estavam regularizadas", diz.

O promotor ainda afirma que inspeções com a polícia têm sido feitas periodicamente. Contudo, pela ausência de guarita, os guias estariam utilizando trilhas clandestinas, diz o promotor.

"Fizemos uma operação, mas não gerou resultados efetivos porque visitas ocorrem de madrugada e de manhã. E isso será evitado quando o estado construir uma estatura de segurança no local, com guarita e portões."

Procurada, a Sema reiterou, em nota, a proibição das visitas na gruta Lagoa Azul. "A população local também auxilia nesse sentido. Qualquer pessoa que esteja adentrando no local está infringindo as regras do órgão ambiental e assumindo os riscos de acidentes."

A secretaria também afirmou que o processo de regularização fundiária está em sua fase final para que o local seja novamente aberto. "A desinterdição da gruta Lagoa Azul é uma meta prioritária do governo do estado."

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