Tribunal da Coreia do Sul diz que lei climática do país não protege direitos básicos e metas são insuficientes

Decisão histórica faz parte de ação movida por cerca de 200 autores, incluindo jovens ativistas e crianças

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Reuters

A Corte Constitucional da Coreia do Sul, principal tribunal da nação asiática, afirmou nesta quinta-feira (29) que a lei de mudanças climáticas do país não protege os direitos humanos básicos e carece de metas para garantir a segurança das futuras gerações.

A decisão histórica vem após ativistas culparem o governo por não lidar efetivamente com a crise climática.

Aproximadamente 200 autores, incluindo jovens ativistas climáticos e até crianças, entraram com petições no tribunal constitucional desde 2020, argumentando que o governo estava violando os direitos humanos de seus cidadãos por não fazer o suficiente em relação às mudanças climáticas.

O tribunal determinou que a lei de neutralidade de carbono seja revisada até o final de fevereiro de 2026. A Corte reconheceu que as metas de emissão do texto atual são inconstitucionais por violar o dever de proteger os direitos fundamentais.

A imagem mostra um grupo de pessoas participando de um protesto. No centro, uma mulher de óculos e vestindo uma blusa preta levanta o punho e grita. Ao seu lado, um homem de terno e gravata segura uma pasta. Atrás deles, outras pessoas também estão levantando cartazes e gritando. Uma menina ao lado da mulher segura um cartaz. O ambiente parece ser ao ar livre, com algumas árvores ao fundo.
A Corte Constitucional da Coreia do Sul decidiu que grande parte dos objetivos climáticos do país eram inconstitucionais, entregando uma vitória histórica aos jovens ativistas ambientais, que comemoram ao lado de fora da corte. - Anthony Wallace/AFP

Ativistas disseram que esta foi a primeira decisão de um tribunal superior sobre a ação climática de um governo na Ásia, potencialmente estabelecendo um precedente em uma região onde processos semelhantes foram apresentados em Taiwan e Japão.

Em abril, o principal tribunal de direitos humanos da Europa decidiu que o governo suíço havia violado os direitos de seus cidadãos por não fazer o suficiente para combater as mudanças climáticas.

A decisão do tribunal sul-coreano foi recebida com aplausos e lágrimas pelos autores, ativistas e advogados, que entoaram coros como "A sentença não é o fim, mas o começo".

"Espero que a decisão de hoje leve a uma mudança maior para que as crianças não tenham que apresentar esse tipo de apelo constitucional", disse Han Je-ah, 12, uma das autoras.

"A crise climática está tendo um grande impacto em nossas vidas e não há tempo a perder", afirmou após a decisão.

Kim Young-hee, advogada dos autores, chamou a decisão de "importante para a redução de gases de efeito estufa de toda a sociedade".

O tribunal disse que a lei de neutralidade de carbono da Coreia do Sul —promulgada em 2010 e revisada posteriormente para estabelecer metas de emissões até 2030 e o objetivo de atingir a neutralidade de carbono até 2050— não apresentava "nenhum nível quantitativo" para as metas de redução entre 2031 e 2049.

"Como não há mecanismo que possa garantir efetivamente reduções graduais e contínuas até 2050, ela estipula metas de redução que transfeririam um fardo excessivo para o futuro", disse o tribunal em comunicado.

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente sul-coreano disse que respeita a decisão e implementará medidas de acompanhamento.

Koh Moon-hyun, professor de direito da Universidade Soongsil, disse que a decisão poderia potencialmente desencadear mudanças em outros países.

"O tribunal deve ter analisado decisões na Europa e mudado sua postura", disse ele. "[A Corte] criou uma chance para a Coreia do Sul abandonar seu apelido de vilão climático."

Cientistas afirmam que um aumento global de temperatura superior a 1,5°C acima da média pré-industrial desencadeará impactos catastróficos e irreversíveis no planeta —desde o derretimento das calotas de gelo até o colapso das correntes oceânicas.

A Coreia do Sul busca atingir a neutralidade de carbono até 2050, mas tem uma adoção lenta das energias renováveis e permanece como o segundo país que mais queima carvão entre os membros do G20, atrás apenas da Austrália. O carvão é o combustível fóssil mais poluente que existe.

No ano passado, o país revisou para baixo suas metas de redução de gases de efeito estufa no setor industrial até 2030, mas manteve seu objetivo nacional de reduzir as emissões em 40% em relação aos níveis de 2018.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.