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Congresso dos EUA discute impacto da Amazônia nos elos comerciais com Brasil

Deputados falam em crise global, mas não acreditam que tema deva influenciar possíveis acordos entre países

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Washington

Deputados americanos debateram nesta terça-feira (10) no Congresso medidas para auxiliar no combate ao desmatamento da Amazônia e os possíveis impactos da política ambiental do governo Jair Bolsonaro (PSL) nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

Durante audiência pública da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, parlamentares mostraram preocupação com o aumento das queimadas e do desmatamento na floresta —classificados por eles como crise global—, mas não foram assertivos sobre condicionar um acordo comercial entre Washington e Brasília a uma mudança da postura de Bolsonaro diante de temas como a preservação do meio ambiente.

Mesmo congressistas de oposição a Donald Trump, aliado de Bolsonaro, concentraram suas exposições na ideia de que é preciso buscar ações conjuntas para resolver a crise de repercussão internacional, sem afirmar que o tema possa criar obstáculos para o relacionamento entre os dois países.

O deputado democrata Albio Sires, que presidiu a audiência intitulada "Preservando a Amazônia: um imperativo moral compartilhado", chegou a dizer que essa não era uma "boa abordagem no momento" e que o objetivo do debate era apenas encontrar soluções sincronizadas entre EUA e Brasil para resolver o problema na floresta.

"Não acho que seriam condições [a serem colocadas para o fechamento de um acordo comercial], mas algo que façamos juntos. Vamos trabalhar juntos, encontrar uma solução", disse Sires a jornalistas no final da sessão. 

"Quero chamar atenção para o que está acontecendo na Amazônia e ter certeza de que isso não é uma sessão sobre atacar alguém, mas sobre as preocupações que temos em relação à floresta e o que podemos fazer para continuar preservando-a, porque isso é importante para o mundo."

A economista brasileira Monica de Bolle participou da audiência e fez críticas à condução da gestão Bolsonaro diante da crise da Amazônia.

Segundo ela, a premissa ambiental deveria, sim, passar pelas conversas entre os governos no âmbito de qualquer acordo de comercial e ser usada pelos americanos para mobilizar o Planalto sobre o tema.

"Acho que tanto do lado republicano quanto do lado democrata existe uma preocupação grande com essas questões de meio ambiente e, sendo assim, qualquer acordo que venha a ser firmado com o Brasil, seja de facilitação de comércio ou algo mais ambicioso, vai conter essas normativas. Isso é comércio no século 21."

Desde que os números sobre o crescimento da devastação e queimadas na Amazônia começaram a ser divulgados, no mês passado, Bolsonaro tem minimizado a situação na área e dito que o caso envolve soberania nacional, discurso ecoado por Trump. Para Bolle, esse alinhamento não ajuda a combater a crise, pelo contrário. 

O líder brasileiro rechaçou, por exemplo, US$ 20 bilhões (cerca de R$ 81 milhões) oferecidos pelo G-7 (grupo dos países mais ricos e industrializados do mundo) após trocar ataques com o presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião da cúpula mais recente do bloco, e se ateve à ajuda logística de governos aliados, como o americano.

Depois da audiência, o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Washington, Nestor Forster, disse à Folha que é preciso discutir a crise na Amazônia "sem paixões incendiárias" e que levar o debate sobre meio ambiente para o comércio exterior pode resultar em um "efeito rebote."

"Não se pode usar meio ambiente como punição. Isso ricocheteia, volta para a Amazônia. Isso seria restringir empresas que podem investir mais por lá."

O presidente da Earth Innovation Institute, Daniel Nepstad, e o diretor de políticas da International Conservation Caucus Foundation, Bill Millan, também participaram da audiência e discutiram como o comércio e as atividades de agropecuária podem impactar no desmatamento e na preservação da floresta.

Nepstad ponderou que algumas empresas de mercados importantes para o Brasil têm se movimentado —e podem continuar a fazê-lo— sobre o consumo de produtos que não estejam associados à Amazônia.

Desde que a crise na floresta eclodiu, com forte cobertura da imprensa internacional, marcas americanas e europeias já anunciaram suspensão de compra de couro e soja do Brasil.

Os parlamentares seguiram a linha global de que o problema na Amazônia é de preocupação de todos os países e não só do governo brasileiro, contrariando o discurso de soberania nacional de Bolsonaro.

"O Brasil é um país soberano, respeito isso. Mas isso tem implicações. A política ambiental não é mais apenas política doméstica, é política internacional. E é por isso que estou desapontado por os Estados Unidos não estarem à mesa com o acordo climático de Paris e acho que devemos usar qualquer ferramenta disponível para preservar e proteger o mundo, o que quer que possa significar", disse o democrata Dean Phillips.

O republicano Francis Rooney, por sua vez, afirmou que é preciso equilibrar a dependência global da Amazônia e a necessidade de o Brasil prosperar. "Todos nós temos interesse em incentivar as pessoas a lidar com as mudanças climáticas e sermos verdes."

Nestor Forster, por sua vez, disse que não vê discrepância de visões entre o governo brasileiro e os parlamentares americanos, já que a preocupação com o meio ambiente "é de toda a humanidade." No entanto, ele ressaltou mais uma vez a tese de Bolsonaro de que cabe somente ao Brasil agir sobre sues recursos naturais e território. "É uma decisão soberana do país". 
 

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