O mundo está ficando mais longe de conseguir o dinheiro para ajudar países em dificuldades a se adaptarem aos impactos cada vez mais perigosos das mudanças climáticas, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira (3).

Além de encontrar dinheiro e vontade política para reduzir as emissões e conter o aquecimento global, centenas de bilhões de dólares são necessários para proteger os países de mudanças que aconteceram muito mais rápido do que os cientistas haviam previsto.

O financiamento internacional atual que flui para os países em desenvolvimento está entre cinco e dez vezes abaixo do necessário, informou o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em 2020, o dinheiro reservado pelas nações doadoras para ajudar os países mais pobres a se adaptarem às mudanças climáticas foi de apenas US$ 29 bilhões —muito abaixo dos US$ 340 bilhões por ano que poderiam ser necessários até 2030.

"É hora de uma revisão global da adaptação climática", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em comunicado à imprensa, observando que pediu aos fundos climáticos verdes que trabalhem com entidades financeiras públicas e privadas para pilotar um novo acelerador para investimentos em adaptação.

O acelerador ajudará os financiadores a trabalhar com países em desenvolvimento para investir em suas prioridades de adaptação e projetos específicos.

Os fundos de adaptação são frequentemente aplicados em programas como melhorar a segurança alimentar plantando culturas resistentes ao calor e à seca ou em infraestrutura, como diques para ajudar a controlar a elevação das águas.

Na cúpula climática da ONU em Glasgow no ano passado, os países desenvolvidos concordaram em dobrar o apoio ao financiamento da adaptação para US$ 40 bilhões por ano até 2025.

Na COP27 em Sharm El Sheikh, no Egito, a partir de 6 de novembro, os países "devem apresentar um roteiro confiável com marcos claros sobre como isso será entregue —de preferência como doações, e não empréstimos", disse Guterres.

A África, em particular, tem lutado para responder ao agravamento das condições climáticas. Os atuais gastos anuais com adaptação no continente são de US$ 11,4 bilhões —ou cerca de 40% de todo o financiamento climático, de acordo com um relatório do Centro Global para Adaptação, um mediador internacional de soluções sediado na Holanda. O cumprimento das promessas de emissões dos países exigiria um adicional de US$ 41 bilhões por ano.

"O financiamento da adaptação está crescendo muito lentamente para fechar a lacuna de investimento na África", disse Patrick Verkooijen, CEO do centro. Um dos principais projetos para combater esse déficit é o Programa de Aceleração da Adaptação na África, que busca arrecadar US$ 25 bilhões para os países nos próximos três anos.

É "o melhor veículo que temos para garantir que o déficit de investimento em adaptação na África seja enfrentado com ação de todas as fontes disponíveis, incluindo o setor privado", disse Verkooijen.