Quilombos do Vale do Ribeira inspiram livro sobre plantas da mata atlântica
Guia de plantio de sementes mostra uso medicinal de dezenas de espécies vegetais nativas da região
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Bioma mais devastado do Brasil, a mata atlântica é o berço da renda de dezenas de quilombolas do Vale do Ribeira, em São Paulo.
Com técnicas ancestrais de colheita e plantio, moradores das comunidades André Lopes, Bombas, Maria Rosa e Nhunguara já manusearam mais de duas toneladas de sementes e contribuíram para o restauro de cerca de 30 hectares da área.
É o que mostra o livro "Do Quilombo à Floresta: Guia de Plantas da Mata Atlântica no Vale do Ribeira", lançado nesta semana, numa parceria do ISA (Instituto Socioambiental) com a Rede de Sementes do Vale do Ribeira.
Organizado pela cientista social e especialista em etnobotânica Bianca Cruz Magdalena, o guia traz textos de diferentes autores e faz um raio-X de 52 espécies vegetais nativas da região. Nele, estão explicações sobre os tipos de manejo, plantio, colheita, cultivo, armazenamento e consumo de cada uma das plantas.
"O livro foi pensado para os próprios coletores mesmo", diz Magdalena. "É para ser um material didático, um guia pedagógico."
Em formato de apostila, "Do Quilombo à Floresta" tem glossário de termos técnicos e traz páginas em branco para anotações.
Ainda que o foco seja nos coletores, o guia também deve atrair os fãs de botânica e sustentabilidade. Suas plantas servem para usos variados, de comida à confecção de artesanato.
Problemas de saúde como tosse, dor muscular e febre podem facilmente ser curados com espécies como chamarrita, urucum e angico-Branco, detalhadas no livro.
Para arborização urbana, o leitor verá benefícios em plantas como aroeira Pimenteira, conguinho e casco-de-vaca. Quando o assunto é reflorestamento, capiaguaçu, ficheira e capororoca estão entre as indicações.
Juliano Silva do Nascimento, engenheiro agrônomo e coautor do livro, conta que "alguns dos coletores não dominam a escrita", mas, mesmo assim, fizeram questão de participar de seu desenvolvimento —com entrevistas e conversas—, justamente por apreciarem o valor simbólico do registro.
Ainda que some mais de R$ 242 mil em venda, a Rede de Sementes não tem somente valor financeiro para os quilombolas. É também parte da identidade cultural destas comunidades. A colheita é uma tradição passada de geração para geração.
A sabedoria dos coletores, aliás, inclui técnicas reconhecidas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial do país. Com 60 integrantes, a rede trabalha hoje com 98 espécies vegetais e se tornou modelo de desenvolvimento regional.
"Os quilombolas do Ribeira têm uma contribuição socioambiental para além de seus territórios", afirma Raquel Pasinato, coautora do guia. "Ao conservarem as florestas, ajudam a regular o clima, produzir água e promover recursos de segurança alimentar."
Localizado no sul paulista, o Vale do Ribeira tem a maior área contínua da mata atlântica. Semanas atrás, o bioma se tornou a mais nova polêmica ambiental do país, após a Câmara dos Deputados aprovar uma medida provisória que afrouxa leis que protegem a floresta. Agora, o texto seguirá para o Senado.
O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford
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