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Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

Mentiras sinceras não interessam

Escolas devem preparar estudantes para navegar em meio a miríade de notícias em redes sociais

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O nível de queimadas em 2019 foi o menor da história. Estamos queimando o "pulmão do mundo”, responsável por 20% do oxigênio da Terra. As queimadas da Amazônia foram realizadas por ONGs, insatisfeitas com a perda de recursos públicos. O Fundo da Amazônia foi criado pelos governos da Alemanha e da Noruega com o objetivo de manter presença no território financiando ONGs internacionalistas, uma intervenção indireta que fere a soberania nacional.

As últimas semanas foram pródigas em afirmações peremptórias sobre as queimadas na região amazônica. A grande maioria delas, falsa. 

O nível de queimadas em agosto de 2019 foi quase três vezes superior ao do mesmo período em 2018. A Amazônia não é o “pulmão do mundo”. A floresta consome praticamente todo o oxigênio que produz.

Cerca de 90% das queimadas na Amazônia são de origem criminosa e não provocadas por ONGs, como sugeriu nosso presidente. 

Os recursos do Fundo da Amazônia são administrados pelo governo brasileiro e a definição dos investimentos cabe a duas comissões indicadas pelo governo, sem ingerência dos seus financiadores, os governos da Noruega e da Alemanha. Em 2018 a maior parte destes foi destinada a projetos de governos e universidades, tendo financiado até mesmo o uniforme dos brigadistas de incêndio.

A gravidade da situação, que além do prejuízo ambiental pode ter impacto econômico e diplomático, leva a duas reflexões para área da educação: como trabalhar as questões ambientais de forma ampla e adequada nas escolas? Como as mesmas devem preparar seus estudantes para navegar no universo das fake news? 

A articulação do currículo com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU, como já faz de forma pioneira a cidade de São Paulo desde 2017, é um bom caminho para responder a primeira questão. Os ODS são um conjunto de 17 objetivos e 169 metas a serem atingidas até 2030 pelos 193 países signatários da ONU voltados ao desenvolvimento sustentável.

Articular os ODS ao currículo permite discutir em sala de aula a importância da Amazônia para o desenvolvimento da biotecnologia e a relação desta com a nova economia, a preservação das espécies, a regulação das chuvas necessárias ao abastecimento de água e à agricultura de outras regiões do país, o respeito aos seus povos originários. 

Permite também discutir que os dilemas de escolha entre desenvolvimento e preservação ambiental não são excludentes, como vem mostrando boa parte do agronegócio brasileiro e a Coalizão Brasil Clima, que reúne entidades ambientalistas e representantes do agronegócio em busca de soluções conjuntas. As discussões possíveis vão além, agregando também o impacto das cidades nas mudanças climáticas, articulando as realidades vividas pelos estudantes à discussão.

As redes mudaram a forma como se consome e se produz informação. Antes unidirecional, de um veículo de mídia para a massa, hoje multidirecional, com múltiplos atores produzindo e distribuindo “notícias". 

O que denominamos "fake news" não é algo necessariamente novo e nem deixará de existir. O que ocorre é que as redes ampliaram sua capacidade de influência. 

Enquanto muitos discutimos a necessária formação dos professores para lidar com novas tecnologias, é imperioso dar um passo adiante. A escola deve se preocupar em formar os estudantes para —de forma independente, autônoma e crítica— navegar em meio a essa miríade de fontes, notícias e interações proporcionadas pelas redes sociais. 

O desafio é maior do que ensinar a selecionar fontes e a leitura crítica do que estas emitem. A sala de aula deve se transformar em um ambiente mais colaborativo, que possibilite ao estudante se expressar livremente, valorize suas opiniões, posições divergentes das suas e a discussão sobre estas de forma estruturada. 

Desafiar os estudantes a produzir informações e submetê-las ao escrutínio dos colegas, discutir as fontes de informação que estes utilizam no dia a dia e comparar a abordagem do mesmo fato por canais distintos —inclusive grupos de WhatsApp— são exercícios valiosos.

A destruição da Amazônia fere a autoestima de todos nós, brasileiros. Macula a imagem do país internacionalmente. É preciso reverter o desmonte do sistema de fiscalização ambiental e dos órgãos de pesquisa científica em curso.

Mas é fundamental que os projetos pedagógicos de nossas escolas valorizem o conhecimento científico, a questão ambiental em todas as suas dimensões e a capacidade de consumir e analisar de forma crítica e autônoma o mar de informações que nos é bombardeado diariamente.

Como nos ensinou o Nobel de Física Richard Feynman: "Devemos ter cuidado para não acreditar nas coisas simplesmente porque queremos que elas sejam verdadeiras. Ninguém pode enganar você tão facilmente quanto você pode enganar a si mesmo.”

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