Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
O gavião carioca
Ave tem encantado e assustado os moradores do Flamengo
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Reza a lenda urbana que, na cornija da fachada da Biblioteca Nacional, morava um gavião. Não uma espécie qualquer, mas um gavião-real, de penacho branco, cujas asas mediam quase dois metros de envergadura. Nos ares, sua velocidade podia chegar a 200 quilômetros por hora. Sua especialidade era pegar pombos em pleno voo. Um dia ele sumiu.
O advogado Paulo Mendes, o Mandrake – personagem do romance “A Grande Arte” e de mais uma dezena de contos e novelas de Rubem Fonseca –, costumava sentar no bar Amarelinho, pedir um chope e torcer para que o gavião fizesse a limpa entre os pombos da Cinelândia. “Mas os pombos, esses animais ferozes que a ignorância dos artistas escolheu como símbolo da paz, esses não vão desaparecer nunca”, lamentava Mandrake.
Pois agora apareceu outro gavião. A coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo, deu que os moradores do Flamengo estão assustados e encantados com o bicho. Uns exaltam a sua beleza de penas cinza. Outros temem que ele ataque animais domésticos, o que é bem provável. Eu moro no bairro e já vi a ave de rapina mergulhando num lago de decoração, trazendo de lá um peixe vermelho no bico. Aposto que ele se esconde no ainda sossegado morro da Viúva —um recanto da natureza tornado invisível pela parede de edifícios.
Existe uma foto do gavião (creditada ao humorista Tutty Vasques) circulando cheio de estilo no parapeito de um prédio na Senador Euzébio, rua histórica. No ponto em que esta conflui com a rua Princesa Januária, é o sítio exato, segundo alguns historiadores do Rio, onde ficava a famosa Casa de Pedra, a primeira a ser erguida nas Américas, à qual os índios deram o nome de carioca. Fazia-se ali a Aguada dos Marinheiros, como era conhecida a praia do Flamengo.
É como se o gavião protegesse o lugar onde nasceu a cidade.
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