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Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Gurufim

A arte de festejar, cantar, dançar, comer e beber o morto

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A palavra é: gurufim! O “Aurélio” não a registra. O “Houaiss” —que tem o pesquisador de cultura afro-brasileira Nei Lopes como colaborador— diz que, na comunidade negra, é uma brincadeira feita em velório a fim de desagravar a atmosfera. Ou velório popular em que há música, dança, canto, em homenagem ao morto. 

Foi exatamente o que se viu na sede do Botafogo, com seus ares aristocráticos, onde os amigos foram se despedir de Beth Carvalho. A irmã da cantora, Vânia, deu outra definição: “Gurufim é o funeral do morro. Funeral dos pobres”. 

O flautista Claudio Camunguelo fez um samba imaginando o próprio: “Eu vou fingir que morri/ Pra ver quem vai chorar por mim”. Possível herança de escravizados bantos, vindos da África Ocidental e Central, gurufim —arrisca o folclorista Luís da Câmara Cascudo— é corruptela de golfinho, animal que, em algumas culturas antigas, era o encarregado de levar a alma dos mortos. 

Beth Carvalho era uma botafoguense apaixonada. Assim como o cidadão Alfredo Melo. Morto em março, Alfredinho comandava o Bip Bip, boteco de Copacabana. Que ambos tenham tido as mais alegres e concorridas exéquias que a cidade presenciou nos últimos tempos faz pensar que existe uma misteriosa equivalência entre o Botafogo e os enterros.

Zeca Pagodinho, alvinegro de quatro costados, não perde por nada essas celebrações. “Velório em Irajá é a melhor coisa que tem”, ele garante. “Na capela, a gente bebe de tudo, com direito a salgadinho e jogo de ronda. Depois confere a sepultura, para jogar no bicho. No dia seguinte, você não acha uma água mineral.”

No mais memorável gurufim a que compareci —o de Luiz Carlos da Vila, na quadra da escola de samba Vila Isabel— ganhei, para espantar a tristeza, um gole de uísque, oferta de Zeca, que escondia a garrafa numa japona. Da Vila também torcia pelo clube de General Severiano.

          
 

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