Siga a folha

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Morte no churrasco

'Por que o cidadão de bem precisa de tanta bala?', perguntaria o escritor Andrea Camilleri sobre o Brasil atual

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Os romances policiais de Andrea Camilleri se passam em Vigàta, uma pequena comunidade da Sicília às voltas com miséria, corrupção, migrantes, feminicídios e a presença da máfia em conluio com autoridades. Nada muito diferente do que ocorre no Brasil —você pode substituir máfia por milícia.

Recente portaria, assinada pelos ministros Sergio Moro (Justiça) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa), define que um “civil autorizado” pode ter até 200 munições por arma. “Por que um cidadão de bem precisa de tanta bala?”, perguntaria Camilleri, já engendrando a trama de uma nova obra, na qual um almoço dominical de confraternização acaba em carnificina. 

Mas não é só por isso que a leitura de autor siciliano nos é familiar. Há nele um sentido de humor, usado para enfrentar as adversidades da vida, que o brasileiro também possuía, mas que foi se perdendo e afinal substituído pelo ódio nosso de cada dia.

O escritor italiano Andrea Camilleri - Reuters

Enquanto não surge um Camilleri entre nós, fiquemos com o original. Ele morreu em 2019, deixando mais de cem obras, que só na Itália venderam 25 milhões de exemplares. Foi um escritor de vocação tardia. Tinha 53 anos ao publicar o primeiro livro, que não aconteceu. A partir de 1994 virou um fenômeno ao criar o comissário Montalbano, um sujeito angustiado e comilão. Em seu mais recente caso traduzido pela Record (“Uma Voz na Noite”), ele encara uma farta refeição de espaguete com vôngole e mexilhões, lulas e camarões assados, vinho e “nada de água”.

Aos 93 anos o maestro Camilleri continuava trabalhando nas aventuras de Montalbano —ao todo, são 37 livros com o personagem. Depois que um glaucoma o deixou cego, ditava as obras para uma assistente. Apesar de fumante crônico, não tinha a menor intenção de morrer. A não ser que, em busca de mais inspiração, viesse ao Brasil e fosse convidado para um churrasco entre amigos.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas