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Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Carlos Lessa era um Sísifo carioca, a quem a única saída era seguir sonhando

Morto na semana passada, o economista tirava do próprio bolso para preservar a memória e a arquitetura do Rio

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Na época em que presidia o BNDES, em 2004, o economista Carlos Lessa se dedicava a investimentos do próprio bolso de preservação da memória e da arquitetura ameaçadas do Rio antigo. Com dinheiro fruto de herança, comprou um sobrado de três andares do século 18, caindo aos pedaços e invadido por moradores de rua, mas de deslumbrante fachada de azulejos, para reformar. Ali, ele acreditava, funcionara uma das primeiras sedes do Banco do Brasil. O dono de então, no entanto, era um peixeiro de alcunha Risca Faca.

Demitido do banco de fomento logo depois —por divergências com Antonio Palocci, ministro da Fazenda no primeiro governo Lula— continuou a adquirir velhos imóveis para dar-lhes vida nova. Chegou a ter três deles na rua do Rosário, nas imediações da praça Quinze. Era a maneira de Lessa demonstrar amor pela cidade em que havia nascido.

Em 2012 restaurou outro prédio tombado, este no Catete, abrindo a casa de espetáculo Ameno Resedá, homenagem ao famoso rancho carnavalesco do bairro. Morto na sexta (5), aos 83 anos, vítima da Covid-19, Lessa escapou do desprazer --assim espero-- de tomar conhecimento do desmonte do Iphan pelo governo Bolsonaro, que sobrepõe interesses comerciais e ideológicos ao patrimônio nacional.

Autor de "O Rio de Todos os Brasis" —livro que explica como a cidade passou de a Paris dos Trópicos para a Miami da América do Sul—, era um tipo raro: um sedutor de bengala, um intelectual otimista, um Sísifo carioca, que costumava dizer que a única saída é seguir sonhando. Não por acaso era torcedor fanático do Olaria, bravo clube alvianil da rua Bariri.

Manipular dados da pandemia num momento de recordes de mortes é coisa de país que vive sob ditadura. Teme-se um golpe que, na prática, já está instalado.

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