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Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Nova normalidade ou nova mortalidade?

Ao politizar o coronavírus, Bolsonaro tenta, ao custo de vidas, suprimir e ignorar a realidade

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Com a pandemia, os obituários deixaram de ser o patinho feio do jornalismo. Jornais impressos, telejornais e portais da internet descobriram o que a melhor imprensa de língua inglesa —em especial, a famosa seção do New York Times, campeã de leitura e sinal inequívoco de status do morto— já sabia há muito tempo: obituários são homenagens à vida, e não um ritual de morbidez.

No atual fase do Brasil relaxado nos shoppings e nas praias, em busca açodada da nova normalidade (que mais parece uma nova mortalidade), os números continuam a mostrar o horror para quem se recusa a vê-lo: em quatro meses após o primeiro caso diagnosticado de Covid-19, mais de 50 mil mortos e mais de 1 milhão de infectados. É bom lembrar que o país não testou nem 3 milhões de habitantes, parcela ínfima diante do tamanho da população.

Em algum momento se percebeu que apenas contar defuntos em covas rasas, friamente, não revelava a dimensão da dor. Não só as pessoas famosas como as anônimas têm merecido, desde então, a delicadeza da mídia em pequenas cerimônias de adeus.

São existências comuns, resumidas em poucas linhas de palpável humanidade. Jorge, 64, médico que cuidava de cães de rua. Manuel, 64, vendedor de amendoim torradinho. Francisco, 47, que não tinha vergonha de cantar e dançar. Deoclides, 72, que adorava ler jornais. Maria, 49, costureira de escola de samba. Caetano, 81, peladeiro do Leme. Gutemberg, 48, motorista de ônibus que parava no ponto. Cláudia, 37, massagista com mãos de fada. Uia, 78, descendente de quilombolas.

Ao politizar o coronavírus, desde seu aparecimento tratado como vírus chinês, o governo Bolsonaro tenta, ao custo de vidas, suprimir e ignorar a realidade. Daí que, entre outras barbaridades, o presidente peça a seus seguidores que invadam hospitais. Já que a verdade é inaceitável, ela também não pode existir.

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