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Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

A pele que habito me impede de afirmar que no Brasil todos nós vivemos bem

Desigualdade racial é uma realidade brasileira e tem raízes fincadas em terra adubada com medidas criadas para que tudo mude sem que nada se altere

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Em meio aos debates internacionais sobre racismo, as recentes declarações do trineto do imperador dom Pedro 2º, dom Bertrand de Orleans e Bragança, para quem no Brasil não existem diferenças raciais, ilustram bem a cena nacional. “Enquanto certos países têm um problema racial muito violento, aqui nós não temos. Aqui no Brasil, todos nós vivemos bem.”

Pode até ser que o mito da democracia racial brasileira subsista e faça algum sentido para quem não é negro —especialmente se for descendente de família real e desfrutar das benesses de um sistema estruturado para perpetuar a condição de privilégio racial branco.

Para quem é negro, a história é outra —e bem diferente.

Basta uma breve espiada no passado para que se vislumbre o sistema articulado para garantir a perpetuação da desigualdade racial.

Se em tempos de escravidão os negros estavam condenados a ocupar a base da pirâmide social, em tempos de liberdade foram tomadas as devidas providências para assegurar a manutenção do status quo. Dois exemplos oriundos do período do Império bastam para resumir a situação.

Em 1850, portanto antes da abolição, a Lei das Terras impedia o acesso à escola e à propriedade de terra por negros. Em 2020, passados 132 anos da Lei Áurea, a maioria dos trabalhadores domésticos, dos ocupantes de subempregos e dos desempregados é negra.

Em 1888, ano da abolição, proposta de lei criminalizava a vadiagem para conter o potencial aumento da criminalidade em razão do número de negros libertos vagando pelas ruas, sem emprego e sem moradia. Hoje isso se traduz em uma população carcerária predominantemente negra.

Por essas e muitas outras razões é que não se pode perder a perspectiva histórica em relação aos fatos. Conhecer e reconhecer o passado é fundamental para entender o presente e projetar o futuro. Ah! Uma pitada de empatia e outra de senso crítico também ajudam bastante.

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