Siga a folha

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

É negro, mas...

Eleições 2022 mostram que há candidato que considera a negritude uma característica incapacitante

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Mesmo com a campanha passando ao largo da pauta racial como pontuei semana passada, as eleições gerais 2022 conseguiram explicitar que há candidato que considera a negritude uma característica incapacitante —ou um demérito pessoal.

Isso explica que um postulante a governador, especialmente de um estado de maioria negra como é o Piauí, possa ter considerado elogiosa a afirmação "você é quase negra na pele, mas é uma pessoa inteligente [...]", feita à jornalista que o questionou sobre planos para mulheres e minorias.

O abismo entre a elite e a realidade da maioria do povo (56% dos brasileiros são autodeclarados negros) é tão profundo que faz com que os negros tenham todos os indicadores sociais inferiores aos dos brancos. Também permite ecoar o pensamento torpe e infundado que associa um grupo étnico a tudo o que há de ruim.

Manifestantes pintam frase #vidaspretasimportam na avenida Paulista (SP), em protesto pelo assassinato de Beto Freitas, em Porto Alegre - Bruno Santos - 21.nov.20/Folhapress

Quem se dispõe a olhar com um pouco de atenção enxerga o cenário funesto no qual paira uma névoa de permanente desconfiança sobre pretos e pardos como se apenas em caráter excepcional um negro pudesse portar atributos —ou ser um "cidadão de bem".

O comentário do leitor Ricardo Batista sobre minha coluna "Uma voz das ruas", publicada na Folha em 29 de agosto de 2022, ilustra a situação: "Texto pungente. Outro dia tive que ciceronear um estrangeiro em passagem pelo Brasil, e ele me relatou: ‘cara, não sabia que o Brasil era tão racista. Me olham sempre como se eu estivesse prestes a tirar uma arma da bolsa e anunciar um assalto’."

O depoimento contundente encontra respaldo na percepção da carioca Rita Monteiro, moradora do Reino Unido há 22 anos, com quem conversei. Ela tem clareza da distinção entre ser negro no Brasil e na Inglaterra. "Existe racismo, mas o negro em Londres tem direitos". Não vive sob pressão, não é tratado pela polícia como bandido, nem tem a capacidade intelectual avaliada pela cor da pele, por exemplo.
Às vésperas do bicentenário da Independência, fica a reflexão sobre a nação que podemos ser.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas