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É escritor e roteirista; carioca do subúrbio do Rio e evangélico, é autor de "Rio em Shamas" (ed. Objetiva) e empreendedor social, fundador da Universidade da Correria, escola de afroempreendedores populares.

Descrição de chapéu

Presos num tuíte

Segunda coluna e já quero desistir, não dou conta de tanto Brasil

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Que isso, gente. 

Segunda coluna e já quero desistir. Não dou conta de tanto Brasil. 

Acho que alguém na Folha quis me sacanear e disse: "Duvido que esse desgraçado, que evita uso da crase, aguente três colunas seguidas". E fizeram um bolão na redação pra ver se eu durava um mês. 

De fato, 
se eu estiver andando, perdão, 
walking, also, 
num call com meus steakholders, 
talking about minha nova action 
para obter seed money 
pro meu novo app Escravocrator Eats,
pela Faria Lima, 
drinking my Caramel Mocca tall, 
que nada mais é que: café, leite e chocolate em pó; 
cujos ingredientes custam 20 merréis, e dá pra fazer um BALDE de mocca pra mim e mais doze nego, mas custa 500 milhões de reais o copo de 40 ml, na famosa rede de boost coffers,

e aparece uma crase na calçada vindo em minha direção querendo falar sobre a chance de sermos remotamente amigos, eu repito em voz alta todos os ensinamentos obtidos nas sessões de mindfullness e, como bom jovem místico, faço aquilo que habitantes da Faria Lima sabem fazer de melhor: chilique. 

Não dá pra fazer uma crônica semanal com humor num país onde um site de notícias fantasiosas chamado Surrealista é considerado um neném diante das manchetes que as grandes redações dão. 

O Brasil é uma fonte inesgotável de chinelagem, assim como Cascadura é uma fonte inesgotável de aroma mijo. O viaduto de Cascadura, um patrimônio do subúrbio.

O presidente Juscelino andou por lá. Talvez tenha dado uma mijada também. Desde a fundação de Cascadura, mija-se ali. Observe, um viaduto, reservado, apetecível para o mijo causal. O carioca se mija. O carioca se mija em todo lugar, onde pode.

No Carnaval tem campanha pedindo pras pessoas mijarem em banheiros, porque os cara mija no metrô, e as mina abaixa a calcinha na calçada, em frente à churrascaria, e mija cantando Zug Zug de Blogueirinha. Tem até tutorial pra mijar e usar celular. Você, se carioca, talvez esteja mijando e me lendo.

Nós cariocas somos sommeliers de mijo. Podemos, há metros, sentir se no mijo há mais ou menos um tom amadeirado, se é doce, cítrico.

Homens urinam em parede da rua Augusta - Raquel Cunha/Folhapress

Tanto se mijou no viaduto, que o cheiro da urina entranhou no concreto, e hoje não somos nós que mijamos no viaduto, mas ele quem mija na gente, pois passou a exalar o puro sumo do mijo, como um chafariz da urina.

Me surpreende é em Lisboa não se usar desodorante. Aqui, a campanha é pro pessoal passar um desodorante antes de ir pro metrô. Chamam-se "Sovaquitos", os personagens da campanha. BRAÇOS que têm personalidade, boca, olhos, e incentivam pessoas a usar alguma coisa que impeça a vontade de morrer quando se faz sinal pro ônibus. Eu quando andei de metrô pela primeira vez em Lisboa achei que o problema era eu. O carnegão satanista vinha do suvaco dos usuários lisboetas.

Mas não há quem possa com crentes fazendo escândalo por causa do Porta dos Fundos. Taí vendo Netflix, quando deveria estar lendo a Bíblia. Porque Netflix ativa a droga que ativa o XVideos. Pra onde foi "Bacurau", o filme completo. Filme que, se fosse levado a sério, o nazista de Unaí não sairia vivo daquele buteco, porque de todo jeito, ele não sairia vivo se estivesse na Alemanha de 1939. Deve ser fã nos posts do sinistro da Educação que, por sua vez, tem antecessores na pasta em que ele comanda a esculhambação gramatical com mais de 33 erros de português em declarações públicas. 

Mas o que vence o campeonato de surrealidade é a pesquisa publicada ontem pelo Intercept Brasil, realizada pela jornalista Cecília Oliveira e Leandro Demori. Talvez a única coisa séria que aconteceu nos últimos dias, apesar de ser tão surreal quanto. Eles rodaram favelas nas zonas norte e oeste do Rio e encontraram cartuchos de munição de fuzil, metralhadora, alguns feitos na Guerra Fria na década de 1970, outros vindos da Rússia, da Europa e até cartuchos do mesmo lote de munição usada pra executar Marielle e Anderson. Na mesma cidade onde morrem 1.500 pessoas por ano, vítimas de violência letal, essencialmente negras, um governador que sorri e celebra. 

Não, queridos, nada nesse texto foi inventado. É isso mesmo. 

Não há mais sentido.

Estamos vivendo dentro de um tuíte de Carlos Bolsonaro.

Quem me chamou pra escrever essa coluna tá me desafiando pra ver até onde eu aguento.

A pergunta que eu me faço é até onde nós aguentaremos. 

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