Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.
Banco Central
Imagine um BC com dois objetivos: taxa de inflação e de desemprego
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No início dos anos 50 do século passado, discutiu-se muito se a inflação era um fenômeno produzido pelo excesso de demanda global ou pela organização da produção sujeita a um fator monopolizado como o trabalho quando sob o controle de sindicatos fortes.
Assistiu-se ao desenvolvimento de uma ampla pesquisa sobre a “inflação de demanda” e a “inflação de custos” que não eram estranhas à rápida ampliação do pensamento de Keynes.
A imagem era de um “triângulo difícil” que foi depois conhecido como um “dilema cruel”: ele impedia que uma economia atingisse, simultaneamente, a estabilidade dos preços e o pleno emprego se sua mão de obra tivesse ampla liberdade de barganha salarial coletiva.
No final daquela década “descobre-se” a curva de Phillips, uma relação entre as variações da taxa de desemprego e a taxa de variação dos salários. Ela parecia oferecer uma possibilidade de escolha (um menu) entre a taxa de inflação e o nível de desemprego. Existiria uma taxa de desemprego (“natural”) na qual a taxa de inflação permaneceria constante.
Durou até que Milton Friedman (e Edmund Phelps) chamasse a atenção para as “expectativas inflacionárias”: a relação descoberta (a curva de Phillips) existiria no prazo curto, antes que a taxa de inflação se acomodasse. No longo prazo, a economia voltaria à taxa natural de desemprego, exigindo taxas de inflação cada vez mais altas.
Talvez seja razoável dizer que as pesquisas realizadas nos últimos 50 anos mostraram que a inflação pode conter, simultaneamente, elementos de “demanda” e de “custo” e que obter dois objetivos, “menor taxa de inflação” juntamente com a “menor taxa de desemprego”, é uma tarefa inexequível com a atual estrutura organizacional da sociedade.
A conclusão que hoje parece aceitável é que, no longo prazo, a taxa de desemprego “natural” (e, logo, o crescimento do PIB) é independente da taxa de inflação. Isso sugere que o objetivo da política monetária exercida pelo Banco Central (certamente não independente da política fiscal) deve ser apenas o controle da taxa de inflação que se supõe (aqui precisamos de “crença”) nos levará, no longo prazo, a taxa de crescimento “natural” da economia.
No Brasil essas pedantes observações teóricas são muito fortalecidas pelo dramático aumento da judicialização da atividade administrativa. Imagine um Banco Central com dois objetivos: taxa de inflação e taxa de desemprego, irreconciliáveis. Se o Banco tiver plena liberdade para acertar uma, talvez por coincidência acertará a outra, mas com certeza terá de acertar as contas com o Ministério Público...
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