Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich

Os protestos nas universidades americanas passaram do ponto

Movimentos prejudicam a própria causa palestina

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Aulas online, como na pandemia. O que começou como uma manifestação estudantil legítima nas universidades americanas tornou-se um protesto de fúria e intransigência, que acabou se desviando de seu próprio propósito. A Universidade Columbia, que foi o epicentro do movimento, tomou medidas "em prol da segurança dos estudantes" e determinou aulas híbridas até o fim do semestre. Se uma manifestação que se diz contra a guerra e a opressão representa uma ameaça à segurança dos alunos, ela é inegavelmente abusiva.

Ao anunciar a suspensão das aulas presenciais, a presidente da universidade, Minouche Shafik (que demorou para acordar), condenou o uso de linguagem antissemita e comportamentos intimidadores pelos manifestantes.

Acampamento em apoio aos palestinos na Universidade Columbia, em Nova York (EUA), neste domingo (28) - David Dee Delgado/Reuters

Existe uma diferença entre discordar ou condenar a política de Israel e apoiar o Hamas -ou questionar o direito de judeus existirem. Parte da retórica nos protestos ultrapassou essa fronteira. Voltamos à discussão: como preservar a liberdade de expressão e ao mesmo tempo impedir o racismo? De um lado, a lei americana protege o direito à ampla de liberdade de expressão, do outro, as universidades têm normas éticas de conduta.

O que acontece hoje é a antítese do que as universidades pretendem ser. É o oposto do intelectualismo, do diálogo, da investigação e da busca pelo conhecimento. As "mentes privilegiadas" dos estudantes (e dos tantos outros infiltrados) que protestam nessas universidades de elite são movidas por uma espécie de emoção irracional e transgressora, fruto de uma degeneração intelectual doutrinadora que não dá espaço ao conhecimento nem ao debate civilizado.

"Condenar as atrocidades do Hamas seria o mais benéfico para os palestinos", declarou o ativista pacifista palestino Hamza Howidy, que se opôs aos protestos nos campi das universidades americanas. Conforme reportagem concedida à revista Newsweek, ele diz que os movimentos prejudicam a própria causa palestina, embora defenda a libertação palestina e do povo de Gaza. "Eles não estão preocupados em proteger os palestinos. Eles estão em suas tendas por causa do ódio aos judeus e aos israelenses."

Howidy, originário da Cidade de Gaza, que há tempos luta pelo seu povo, já foi preso por se manifestar contra o Hamas. Ele não apoia os manifestantes que gritam slogans pela globalização da intifada e contra os seus cantos antissemitas e questiona: "Onde estavam estes jovens atenciosos quando o Hamas assumiu o controle de Gaza e massacrou centenas de habitantes de Gaza, ou quando o Hamas manteve 2 milhões de habitantes de Gaza cativos durante mais de 17 anos? Por que não se manifestaram sobre o fato de o Hamas ter conduzido os habitantes de Gaza para este conflito, que resultou em mais de 30 mil mortos e 80 mil feridos, segundo as autoridades municipais de Gaza?".

Como outros ativistas que pensam, Howidy entende que o conflito deve ser resolvido através de esforços em direção à paz, e não através da violência. Infelizmente não é isso que pensam os manifestantes.

É no mínimo estranho chamar de "pacíficos" os cantos raivosos e as batucadas incessantes que invadem as salas de aulas e passam a fazem parte do cenário diário das universidades. É um tipo estranho de paz tratar como heróis os membros do Hamas e pedir por mais mortes. É um tipo estranho de paz ouvir ameaças como "The 7th of october will be every day for you" (o 7 de outubro será todos os dias para você), "We are Hamas" (somos o Hamas), "Get the f*** out of here, all you ugly ass little Jewish people" (deem o fora daqui, todos vocês, pequenos judeus feios).

Embora as universidades americanas tenham adotado programas de diversidade, equidade e inclusão, a intolerância e o ódio dominaram os campi, excluindo os judeus dessa diversidade. Se fosse com qualquer outra minoria, será que os protestos durariam mais de dez minutos antes de serem erradicados e condenados?

O escritor Allan Bloom previu a situação no livro "The Closing of the American Mind: How Higher Education Has Failed Democracy and Impoverished the Souls of Today's Students" (O fechamento da mente americana: Como o ensino superior falhou com a democracia e empobreceu as almas dos estudantes de hoje). Para ele, "a infeliz mistura de covardia e moralismo" não demoraria a derrubar o espírito da universidade e minar o amor pela sabedoria e pela verdade. Quase quatro décadas depois, a profecia se concretiza.

Cartazes de frases sem sentido como "Climate justice meens free palestine" (Justiça climática significa libertar a Palestina) até palavras que invocam um eufemismo nazista, como "Final Solution" (solução final, que alude ao plano nazista de exterminar o povo judeu na Segunda Guerra Mundial), mostram que muitos nem sequer sabem o que estão falando ou, na pior das hipóteses, sabem muito bem.

Essa triste realidade transfere a crítica para o ódio, a simpatia pelos palestinos para justificar os atos do Hamas, a condenação da política de Israel para o antissemitismo. Isso só pode dar mal.

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