Siga a folha

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Eurovision mostra como a geopolítica internacional poderia ser mais lúdica

Realizada desde 1956, competição musical europeia é hit parade aleatório, que vai do metal finlandês ao funk lituano

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Imagine uma sala de controle típica de filme da Guerra Fria. Só que em vez de um painel com Washington, Moscou e mísseis teleguiados, o que surge no radar é uma boy band do Azerbaijão. Um vampiro rapper suíço. Uma diva barbada do pop austríaco.

Prestes a explodir feito bomba-relógio, minha cabeça inicia a contagem regressiva de uma missão quase impossível: até sábado que vem, convencer mais gente a assistir ao Eurovision comigo.

Todo ano, essa sofrência de explicar aos amigos o que é e por que gastar quatro horas da vida com a mais louca e fascinante competição musical europeia. E se é europeia, por que tem Israel e Austrália? Spoiler: nada ali fará sentido.

Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune de 8.mai.2022 - Marcelo Martinez

Realizado desde 1956, o Eurovision demonstra que a geopolítica global poderia ser mais lúdica. Seu sistema de votos é complexo, mas obriga cada país a votar em outras nações, subvertendo o que é costume mesmo na ONU, a Organização das Nações Unidas.

Este ano a Rússia está fora, dando à Ucrânia chance de brilhar com o hip-hop da Kalush Orchestra. Detalhe: Verka Serduchka —a Glória Groove ucraniana— é das maiores sensações da história do evento. Quem joga a bunda agora, Putin?

"Ah, que imperialista." Ué, basta pensar na febre dos The Voice e dos festivais internacionais da canção no Brasil. Temos esse apreço por certames que envolvam o cancioneiro gringo. Tanto que Caetano Veloso, estrela causante do FIC de 1968, se apresentou no Eurovision 50 anos depois, ao lado do campeão português Salvador Sobral.

Além disso, quão descolonizador é testemunhar o Velho Mundo pendurado por cabos de aço, enquanto executa ao vivo números cafonérrimos, em figurinos deliciosamente esdrúxulos?

O incrível nesse hit parade aleatório, que vai do metal finlandês ao funk lituano, passando por Joelma e Ximbinha de Belarus, é ser tão plural. O concurso lança poucos sucessos realmente mundiais, como o Abba, vencedor em 1974, e Céline Dion, em 1988, mas a banda italiana Måneskin ganhou em 2021 e já ultrapassa as fronteiras do TikTok.

Cheguei ao último parágrafo e, se não convenci você até agora, ainda assim a bomba explodirá na final de sábado. Espero que eu e Tony Goes —também fã e colunista deste jornal— consigamos montar um grupo de zap, nem que seja com o equivalente a 1/1.200 da exígua população de San Marino, que estará torcendo por um rock ostentação. Então câmbio, buuum. E desligo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas