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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Descrição de chapéu

Tudo começou como a maioria dos estagiários, jovens e sem grana

E lá se vão 25 anos, tapeando diferentes empregadores e grata demais às minhocas que adubaram o caminho

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Como será que se chama aquele tom de azul da minha primeira carteira de trabalho? Royal? Klein? Anil? "O arco-íris não tem tantas cores sobrando, gente, vamos logo com isso que eu quero ir pra casa hoje."

Assim grunhia o diagramador, sempre que demorávamos a definir o matiz perfeito. Ou o número de toques exato para mais um título sobre microcrédito ou sistemas financeiros. "Tá bom, vão pensando aí enquanto eu rego as orquídeas."

Minha estreia no mundo profissional foi nessa base, junto à mais fina flor da comunicação corporativa. No último andar de um edifício que sediava a revista de economia Rumos (em letras garrafais) do Desenvolvimento (mais miudinhas).

O que por várias vezes me fez atender a telefonemas do tipo: "Alô? Húmus do Desenvolvimento? Quero anúncio da minha criação de minhocas".

Igual à maioria dos estagiários —jovens e ferrados de grana—, ocultei detalhes no teste para a vaga. "Você entende de macroeconomia?" Muito. "Leu os teóricos?" Tudo na mão. É claro que não estava. Eu mal sabia a regra de três, mas tinha boa gramática e um par de olhos e ouvidos. "Contratada."

Meu editor, veterano de cadernos culturais e conterrâneo do Roberto Carlos, me ensinou sobre a riqueza das nações, já tendo notado que eu era da balbúrdia. Tanto que, nas pausas para o cafezinho, falávamos sobre o que realmente importava: cinema e como o rei perdeu a perna.

Graças à secretária, aprendi a transcrever áudios com mais rapidez. Seu método me auxiliou com um figurão do Banco Central que tinha língua presa e dava entrevistas em ritmo de locutor de turfe. Aliás, achávamos uma pena aquilo não virar um batidão de rap.

Também treinei xadrez com o motoboy. Descobri a manha do arroz soltinho com a gerente do financeiro. E ainda me lembro do dia em que, após um pé d’água, formou-se um arco-íris imenso no céu. Sem qualquer hesitação, todas aquelas pessoas tiraram o telefone do gancho para contemplar em paz. Inclusive o diagramador. Embevecido com tamanha policromia, levou até uma das orquídeas à janela.

Ao sair de lá para uma redação maior e mais prestigiada, sem janela alguma, foi tão grande o meu medo de não ser aceita que, agachada embaixo da mesa, liguei para saber se teria o antigo posto de volta, caso precisasse. "Relaxa, tá tudo na mão. Pensa macro."

E lá se vão 25 anos, tapeando diferentes empregadores. Grata demais às minhocas, que adubaram o caminho.

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