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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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No reality real do subúrbio, o Big Brother é Glauro, o Grande Cunhado

E a vila quer saber: 'De onde as pessoas tiram esse tipo de comportamento lá no BBB?'

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O empadão tinha de ser mantido numa travessa coberta por pano de prato, do contrário não ficaria molhadinho. Se alguma das ameixas, estrategicamente posicionadas ao longo da borda, caísse para dentro do buraco do manjar de coco, babau. Configurava eliminação sumária no jogo da discórdia, vulgo "qualquer almoço de domingo".

A casa de Tia Zuma é a mais vigiada do Brasil. E por "Brasil" entenda: a pequena vila que abriga quase os mesmos moradores há 50 anos. O mais jovem tendo chegado na época em que a moeda corrente nem era a estaleca, mas o Barão do Rio Branco na nota de mil cruzeiros.

Ali, espiar a vida alheia é inevitável, pois as residências geminadas não têm muro. Quem anda passando pelo edredom de quem, quem biritou mais na festa de quem, tudo pode pautar as edições diárias desse voyeurismo suburbano. Não há caubói ou crossfiteiro, mas está garantido o aposentado que foi alto funcionário da Caixa Econômica.

Tudo o que viraliza analogicamente, de boca em boca, vai parar no confessionário do Padre Aurélio —que dá expediente na igreja mas aluga o nº 3. Ou acaba entrando na retrospectiva da semana, com cadeiras dispostas na calçada e o conversê rolando sem filtro ou edição.

Ilustração de Marcelo Martinez para a coluna de Bia Braune de 29.jan.23 - Marcelo Martinez

Sempre que toca o telefone na sala de Tia Mocinha, todos correm. Não que seja a voz do Boninho anunciando alguma tarefa. Ao cair de qualquer pé d’água, deixando a vila sem 3G, aquele é o único fixo. Trancado com cadeado e liberado mediante uma prova de resistência: ouvir pacientemente uma lista de dores e de remédios que a irmã de Tia Zuma toma para pressão.

Neidinha, na casa 9, é uma líder que movimenta o jogo como ninguém. Separada com briga no regabofe das próprias bodas de ouro, armou um paredão falso diante dos vizinhos, escondendo o ex-marido Zé Luís. Durante seis meses ele a visitou como amante em seu quarto secreto, mas foi caguetado pelo papagaio Zezinho, que passou a repetir "Estamos de volta!", imitando o Tadeu Schmidt.

Na acepção mais orwelliana desse reality, digamos que a vigilância absoluta caiba a Glauro, o grande cunhado. Irmão de Zé Luís. Em seu uniforme de pijama, observa tudo –desde que esse "tudo", é claro, esteja acontecendo na TV e durante os jogos da rodada. Todo ano, de janeiro a abril, perde a vaga no sofá para a vila inteira, que se espreme ao vivo para comer, beber, torcer e reclamar.

"Neidinha do céu, que absurdo! De onde o povo tira esse tipo de comportamento lá no BBB?", repete Tia Zuma, há anos. "Onde já se viu isso?". Pois é.

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