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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Descrição de chapéu

Não adianta mais combater a expansão do multiverso capilar feminino

De tanto observar a Mulher Maravilha, concluí que aquelas madeixas não eram originais, mas o megahair da verdade

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Nos gibis, a "Crise nas Infinitas Terras" se deu em 1985. Na minha vida, foi quando tinha 11 anos e uma descoloração na têmpora criou um temido vilão: o primeiro cabelo branco.

"Isso aí não é sujeira de Liquid Paper?". "Credo, passa canetinha preta que cobre", me cercavam os colegas no recreio. E eu ali, perdida na transformação que havia ocorrido, sem ganho de poder especial.

Ao longo dos anos, de tanto observar a Mulher Maravilha correr, girar e se manter penteada, concluí que aquelas madeixas não eram originais, mas o megahair da verdade. Laçado fio a fio invisível, em salão babadeiro de Themyscira.

Ilustração publicada em 6 de março de 2023 - Marcelo Martinez

Afinal, cabelo não deixa de ser uma espécie de manto mágico, sempre gerando reflexão. Não concorda? Segue o fio.

Heroína da minha infância, quantas vezes não ouvi minha avó dizer que "depois dos 40, cabelo de mulher tem que ser preso ou curto"? O tipo de pensamento que deu origem à era de prata dos coques, das nucas batidas e dos óculos de leitura pendurados numa cordinha.

À era de ouro dos tons incompreendidos de acaju médio. Ai daquela que, no fulgor revoltado da meia-idade, deixasse a cabeleira crescer sexy, malvadona e grisalha, feito a gélida Nevasca da DC. Inevitavelmente alguém trataria de compará-la a uma bruxa de teatrinho infantil de shopping.

Eu mesma —que mantenho a mecha da infância, mas tinjo o resto nos matizes de farmácia— vira e mexe sou indagada por gente que mete a mão na barafunda que uso com orgulho e sem intervenção de pente.

"Quanto volume! É teu ou comprou?". Pior ainda quando ouso chegar com ele ainda úmido em festa. "Por que não fez escova? Veio direto do motel?".

Na crise que padronizou as terras dos super-heróis, posto que havia personagens em excesso e poderes sem limites, o jeito foi inventar catástrofe que alinhasse as narrativas, contendo paradoxos. Mas na ironia das ironias, até a Supergirl clássica voltou de franjinha.

Deixemos os comerciais de xampu, com efeitos em CGI, no universo fantasioso da antimatéria. Sempre haverá quem queira controlar o que se passa na cabeça alheia, dentro ou fora, mas a expansão do
multiverso capilar feminino não pode ser combatida.

Cortaremos e alongaremos. Alisaremos e enrolaremos. Faremos transição. Ficaremos grisalhas. Se por necessidade tivermos até de abrir mão dos fios, ficaremos lindas. E que possa ser sem infinitas crises.

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