Tinha para mim que era uma pauta necessária. E que, dentro dos preceitos do jornalismo, eu poderia tocá-la com dignidade, fazendo jus ao meu diploma e a este espaço que ocupo na grande imprensa. Assim, passei a mão no WhatsApp e chamei o Tob do Balão Mágico para tomar um café.
"Ah, é? E você pretende apurar o que com ele? De que planeta veio o Fofão? A lenda urbana da prima da Simony sufocada por uma bala Soft?" Pronto, adeus prêmio Pulitzer.
Existem mil motivos para uma pessoa adulta querer conhecer seu ídolo de infância. Ele ter sido membro do grupo pirralho que foi uma febre nos anos 1980, por exemplo. Astro de comercial do Cubo Mágico. Garoto-propaganda do Biotônico Fontoura. Ou crush absoluto de uma menininha que, platônica e catatônica, assistia a clipes e especiais diante de uma TV de tubo.
Não que essa menininha tenha sido eu, imagina. O objetivo daquele encontro seria meramente factual. Profissional. Saber por onde andava Vímerson, seu nome de verdade. Hoje artista plástico e..."Aretha também vai?".
Não, Aretha não era do Balão Mágico, mas estrela dos musicais infantis da Globo. "Ah, tá. Então por que você não chama pelo menos um ex-paquito?".
Desde que anunciei o propósito daquele café, uma comissão formada por inconvenientes e superfantásticos amigos resolveu ir junto.
Advogados, médicas, designers, ilibados cidadãos à beira da meia-idade e da tietagem, dando palpites sobre o que começou a ganhar proporções de um atacadão de ícones mirins.
"A guria do comercial de Tang não pode faltar". "Nem Pat Beijo, porque Mara era muito mainstream". "O elenco de ‘Fantasia’, incluindo Carla Perez". "Tiazinha".
Peraí, qual a classificação etária da infância de vocês? "Pode Nívea Maria em ‘A Moreninha’? Você não especificou a época". "O B do KLB". "Christiane Pelajo na GloboNews". "A pinta da Angélica".
Eu só tinha Tob à mão. E na minha lista de paixonites reserva, apenas o Ray do Menudo e o poeta Álvares de Azevedo, já na adolescência. Um feat, aliás, perfeito. Refrões como "não se reprima" caem feito uma luva a românticos tísicos que cospem versos de amor.
No grande dia, recebi um teste positivo para Covid. Melou o encontrão, errr, documental. "O coronavírus não sabe brincar", disseram. "Nem curte Balão Mágico". Pois é.
"Isso teria acontecido se o café fosse com Juninho Bill do Trem da Alegria?". Jamais saberemos.
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