Siga a folha

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Descrição de chapéu

Precisamos falar sobre pintas, ou marcas de beleza para parentas idosas

Tias-avós economizavam maquiagem e usavam palitos de fósforo com a cabeça já riscada para fabricar marquinhas

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Atenção para os sinais...

Era a minha mais nova aquisição e eu estava tão orgulhosa dela. Já tinha inclusive recebido elogios. Uau, que charme. Logo no cantinho da boca. Até que, por trás de uma lupa que emoldurava seu olho agigantado, a dermatologista esbravejou, categórica. "Tem que tirar!"

Então é isso. Precisamos falar sobre pintas. Aliás, alto lá. Pintas, não —"marcas da beleza", segundo minhas parentas mais idosas. Tias-avós que nos tempos de brejeirice economizavam maquiagem e usavam palitos de fósforo com a cabeça já riscada para fabricar marquinhas que lhes dessem um quê —no queixo, quase sempre— de melindrosas.

Herdeira da cútis estampada de uma linhagem que dispensa o artifício, sou naturalmente esse tipo de pessoa. Digamos assim, "pintosa". Um espécime que comprova a teoria científica de TikTok sobre o sinal no braço que serviria de marcador genético comum a quase todo os indivíduos.

(Aposto que você interrompeu a leitura para conferir seu próprio braço e agora voltou para cá. Ou seja —este assunto é o universal o suficiente para ser tratado, esfoliado e hidratado aqui. Uma coisa de pele.)

Certa vez, enquanto roteirista de game show, propus um jogo que deu a louca nas pintas. A premissa era tão superficial quanto nossa epiderme —e se aquela do Eri Johnson (trocadilhesca o suficiente para batizar seu espetáculo teatral de "Eri Pinta, Johnson Borda") fosse parar na bochecha do Tony Ramos? Ou usurpasse o lugar da sua gêmea loura que habita a coxa da apresentadora Angélica? O multiverso da loucura epitelial entraria em colapso? Hmmm, sinais.

Só sei que, agora, cá estou eu dando pinta no jornal à toa. A coitada já era. Serão pelo menos 48 horas sem poder tomar nenhum tipo de sol. Apenas um hidropore indicando onde jaz a cicatriz de um sutilíssimo encanto arrancado a bisturi elétrico.

Nem foi grande perda, estatisticamente falando. Se você também é pintoso, pintosa ou pintose, sabe muito bem que elas não vão abandonar nossos corpos. Jamais atravessaremos uma escassez de pigmentos, um apagão total de manchas, quiçá um blecaute de sardas. Estas, em tempos de filtros específicos de Instagram, criaram um nicho pop o bastante para ganhar outra exaltação crônica.

Talvez Gilberto Gil, na canção "Esótérico", já tivesse conhecimento de todo esse potencial renovador das pintas. Cantando os seus aspectos mais encantatórios e enigmáticos. Irresistíveis. "Não adianta nem me abandonar / porque mistério sempre há de pintar por aí."

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas