Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune

Treino é o verdadeiro objetivo, mesmo que se esteja sentado no sofá

Não é possível levar esporte profissional a sério, com exceção do parkour, que lembra os filmes de ação de Jackie Chan

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Será que Neymar e Tiger Woods sabem pular poça e correr de onça? Falo com a propriedade de quem agora estará de pijama. Bem calçada não por argumentos, mas com minhas pantufas. Investida da falta de conhecimento prático indispensável a toda opinião radical, porém confortável: o maior esporte do mundo não é mesmo olímpico. E jamais será.

No cartum de Marcelo Martinez, um personagem dá saltos mortais para desviar de obstáculos comuns na cidade grande, como um bueiro aberto ou fezes de cachorro
Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune na Ilustrada de 11 de setembro de 2023 - folhapress

Suor. Adrenalina. Slogans que nos mandam fazer e acontecer, sobretudo comprar tênis. Nada disso me motiva. Das entranhas macias do sofá que habito nos momentos de ócio, considero-me uma ateia do fair play. Não acredito em nada do espírito esportivo.

Calma. Sem desmerecer atletas de fim de semana, sobretudo profissionais. Fico realmente feliz ao vê-los erguendo troféus, mordiscando medalhas em selfies da vitória. Em dia de jogo, nem sequer tapo os ouvidos quando vizinhos assomam às janelas berrando "(favor inserir aqui um time a gosto, mas com pontos na tabela do Campeonato Brasileiro), porra!".

O problema é meu mesmo. Nunca levei esporte profissional a sério. Admiro Roger Federer, porém preferiria que ele jogasse frescobol de sunga, na praia, erguendo, ao final, uma taça de mate com limão. Graças a filmes com Jackie Chan surfando em teto de ônibus, o parkour me diz algo ao coração.

Este, aliás, o único órgão oficial que me leva a me superar na academia, por histórico de ziquiziras familiares. Tô nem aí para a CBF. Refestelada em inércia moral, comendo pipoca, maratono vídeos com o ponto de vista desses Homens-Aranha sem lançador de teia.

Maleáveis e audaciosos, não dispõem de gramados especialmente manicurados: em Paris ou Taubaté, mureta de pracinha serve. Se rolar greve de trem, eles chegam ao trabalho facinho, pulando de telhado em telhado. Quando é que nas Olimpíadas veremos categorias tão cotidianas?

Ou úteis, feito free running de onça, em caso de pânico na mata? Se um dia um trepador de árvores da Amazônia for patrocinado pelo Assaí Atacadista, enfim acreditarei no capitalismo da superação.

Pular poças belamente renderia muitos dividendos, não apenas fotografias icônicas de Henri Cartier-Bresson. A todos os amadores do esporte, se pudesse, eu dedicaria todo o salário e as exigências do Neymar para jogar lá na Arábia Saudita. Tenho para mim que a vida é o treino e a meta final. Nada mais inspirador do que o possível.

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