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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Witzel usa inocentes mortos como palanque no bangue-bangue do Rio

Se não quiser assumir responsabilidades, governador deve procurar outro emprego

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Wilson Witzel plantou atiradores em torno de favelas do Rio, despachou policiais em helicópteros para metralhar as ruas e sonhou até em lançar um míssil para despedaçar bandidos na Cidade de Deus. Com pose valente, promete não recuar. Falta saber quando ele vai demonstrar um pingo de preocupação com os moradores desses lugares.

O ex-juiz resolveu tratar a morte de inocentes em tiroteios entre traficantes e a polícia como um contratempo insignificante. Após uma semana especialmente violenta, sua equipe disse lamentar essas ocorrências “e todas as outras que possam acontecer”. Witzel, nem isso.

Atrás de alguém para culpar, o governador pisou nos corpos das vítimas e fez deles um palanque. “Pseudodefensores dos direitos humanos não querem que a polícia mate quem está de fuzil, mas aí quem morre são os inocentes. Esses cadáveres não estão no meu colo, estão no colo de vocês”, afirmou, na sexta (16).

Além de indecente e desumano, o comentário não faz sentido, já que nenhum defensor dos direitos humanos impediu a polícia de Witzel de continuar matando. E muitos inocentes permanecem na linha de tiro.

A necropolítica do ex-juiz carrega, na essência, essa maneira indiferente de encarar uma população que ele também deveria proteger. Em sua plataforma, a morte de moradores é vista só como o efeito colateral do trabalho para livrar uma favela do tráfico, como um buraco aberto na rua para uma obra. “Desculpe o transtorno”, e nada mais.

O governador quer confundir. Ações de inteligência, políticas de prevenção social e de presença do Estado em áreas vulneráveis, investimentos na elucidação de crimes e o aperfeiçoamento da gestão carcerária poupariam vidas de civis e policiais. Mas só a retórica do bangue-bangue alimenta o marketing.

Witzel gosta de fazer propaganda da coragem com que enfrenta criminosos. Se não quiser aceitar as consequências e assumir a responsabilidade pelas mortes de inocentes, é melhor procurar outro emprego.

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