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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Bolsonaro dá cores ideológicas a discussão sobre salário mínimo

Presidente tem crise de identidade e contamina decisão técnica com viés político

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O presidente acordou em crise de identidade. Logo pela manhã, Jair Bolsonaro disse no Palácio da Alvorada que encontraria uma brecha para corrigir o salário mínimo pela inflação, para R$ 1.045. Minutos depois, saiu às redes sociais com uma crítica velada ao assunto.

"O nosso salário mínimo é pouco para quem recebe e muito para quem paga. Uma eterna discussão entre direitos e deveres", escreveu. Depois, emendou um ataque à esquerda e à Venezuela, que anunciou um aumento de 67% esta semana.

Bolsonaro conseguiu pintar mais uma medida burocrática com uma tintura ideológica desnecessária.

O governo só precisava definir se ajustaria o salário mínimo em R$ 6 para compensar o pico de inflação provocado pela disparada no preço da carne no fim do ano passado. Agiu, porém, como se aquela decisão estivesse necessariamente contaminada pela agenda da esquerda.

O presidente tentou renovar suas juras de fidelidade à agenda liberal. Ao apontar limitações na política de aumento do mínimo, Bolsonaro se agarrou mais uma vez a essa bandeira para fazer um aceno a seus apoiadores no mercado financeiro.

Notas de R$ 50 - Willian Moreira/Futura Press/Folhapress

No fim da tarde, o governo finalmente confirmou o reajuste. O presidente participou da reunião em que o martelo foi batido e fez questão de dar a notícia aos jornalistas.

Bolsonaro não demorou a perceber que aquele seria um ganho político razoável, com custo financeiro reduzido. O peso do aumento será de apenas R$ 2,13 bilhões, ao passo que o prejuízo político de um veto a essa reposição seria desastroso para um presidente já marcado pela indiferença com questões sociais.

Depois de três décadas de vida política, ainda faltam a Bolsonaro os mais singelos fragmentos de sensibilidade nessa área. Em discursos na Câmara, o então deputado só falava de salário mínimo para defender mudanças na remuneração dos militares. Ao tomar posse como presidente, omitiu em um de seus pronunciamentos a única menção que havia no texto à redução da desigualdade.

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