Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Bolsonaro vai exercer diplomacia desgovernada até o fim do governo
Presidente dá coices gratuitos em adversários políticos e distribui afagos pobres quando vê semelhantes
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"Perdemos agora o Peru", lamentou Jair Bolsonaro quando a apuração de votos apontava para a vitória de Pedro Castillo naquele país, em junho. Meses mais tarde, o presidente se recusou a ir à posse do novo governante, assim como fez com outros políticos de esquerda na Argentina, na Bolívia, no Chile e em Honduras.
Bolsonaro mudou de ideia sobre o peruano, a quem já chamou de "um cara do Foro de São Paulo". Nesta quinta (3), o brasileiro sorriu ao lado de Castillo e disse ter interesses em comum com o colega, um conservador de esquerda. O brasileiro ignorou a segunda metade do rótulo e elogiou sua plataforma de defesa da família e de "valores tradicionais".
A variação de humores de Bolsonaro é reflexo da diplomacia desgovernada executada pelo Palácio do Planalto. O presidente brasileiro só consegue enxergar as relações políticas a partir de colorações ideológicas. Dá coices gratuitos quando identifica um adversário num país vizinho e distribui afagos pobres àqueles que vê como semelhantes.
Esse comportamento se tornou uma marca. Antes de tomar posse, o presidente irritou nações árabes ao prometer a mudança de endereço da embaixada brasileira em Israel, estreitando laços com o governo local. Depois que o direitista Benjamin Netanyahu foi substituído por uma coalizão ampla, Bolsonaro abandonou o namoro com o país.
Os caprichos ideológicos do presidente passam na frente de qualquer diretriz da política externa brasileira. Nos últimos dias, causou desconforto uma viagem oficial à Rússia marcada para as próximas semanas, em meio às tensões do país com a Ucrânia. Numa conversa com apoiadores, Bolsonaro avisou que manteria o encontro com Vladimir Putin: "Ele é conservador, sim".
Ainda que tenha sido forçado a demitir o agitador que chefiou o Itamaraty nos primeiros anos de governo, Bolsonaro mantém um pragmatismo às avessas nessa área. Em nome de suas preferências políticas, ele degrada as relações do Brasil com o mundo até o último dia de governo.
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