Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Se não querem golpe, militares estão fazendo um péssimo trabalho
Na prática, dobradinha de Bolsonaro com Forças Armadas para emparedar TSE é abuso de poder
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Jair Bolsonaro pôs na mesa as cartas de sua campanha durante uma reunião na terça-feira (5). O objetivo do presidente era pedir que sua equipe fizesse propaganda do governo para aumentar as chances de reeleição, mas ele gastou metade das quatro horas de conversa para reforçar suspeitas falsas sobre a votação. Na sala, além de ministros, estavam integrantes da cúpula das Forças Armadas, que ficaram em silêncio.
Já seria difícil explicar a participação de chefes militares num encontro convocado para melhorar o desempenho eleitoral de um político. Mas é impossível justificar a presença deles numa reunião em que a máquina do governo fabrica pretextos para tumultuar a votação.
Se as Forças Armadas rejeitam a ideia de "embarcar" na conspiração de Bolsonaro contra as eleições, como tentam espalhar militares graduados, elas estão fazendo um péssimo trabalho. Hoje, há mais do que um ou dois generais atuando para desacreditar a noção de que o voto deve escolher o presidente do país.
O ministro da Defesa é um deles. Na reunião de terça, o general Paulo Sérgio de Oliveira reclamou da demora do Tribunal Superior Eleitoral para responder a questionamentos feitos pelas Forças Armadas sobre a segurança das urnas. No dia seguinte, ele voltou a se queixar durante uma audiência na Câmara e afirmou que os militares só entraram no circuito porque foram convidados pelo TSE.
O general falou como se as Forças Armadas desempenhassem uma função técnica de fiscalização das urnas, mas essa participação é puramente política. A corte já fez esclarecimentos aos militares, mas eles decidiram agir em conjunto com Bolsonaro para ampliar as desconfianças sobre o sistema de votação.
O próprio presidente já tratou com ironia dessa dobradinha. "Eu acho que esqueceram que o chefe das Forças Armadas sou eu", disse, no mês passado. Na prática, o país está diante de mais um caso típico de abuso de poder: um candidato e militares aliados usam seus cargos para tentar interferir numa eleição.
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