Quase 20 milhões de famílias vão às urnas em outubro com um valor extra em seus cartões do Auxílio Brasil. Outras tantas terão um vale-gás turbinado, enquanto milhares de caminhoneiros, taxistas e motoristas de aplicativo contarão com uma ajuda do governo para encher o tanque. Todos esses eleitores devem votar com mais dinheiro no bolso, mas estarão mais pobres no dia em que o próximo governo tomar posse.
A movimentação do Congresso para abrir os cofres e criar benefícios temporários no período de campanha devolve alguma competitividade a Jair Bolsonaro. Os pagamentos devem contribuir para uma redução transitória da sensação de mal-estar provocada pela inflação, ao menos em segmentos-chave.
A criação do Auxílio Brasil em dezembro não foi suficiente para impulsionar Bolsonaro no eleitorado de baixa renda porque o aumento de preços comeu boa parte do benefício. O reajuste oferecido agora não deve tornar o presidente favorito, mas pode suavizar a desvantagem de 36 pontos que ele tem em relação a Lula nesse grupo —o que seria suficiente para garantir que haverá um segundo turno.
O voto desses eleitores será dado num terreno ilusório. O candidato que eles escolherem não vai administrar o Brasil de outubro, com os amortecedores criados pelo governo, mas um país na pindaíba.
A política de improvisos para tapar buracos da inflação e dar fôlego a Bolsonaro muda um parâmetro relevante da eleição. O futuro presidente já não teria vida fácil a partir de 2023, mas agora também terá quer dar respostas aos brasileiros que verão o fim de benefícios, além de pagar a fatura de R$ 41 bilhões deixada por esses programas.
O quadro força um ajuste na decisão que o eleitor vai tomar diante da urna. Em vez de julgar o desempenho de um governo e o alívio criado por medidas temporárias, ele deverá escolher quem vai gerenciar a próxima crise econômica. Bolsonaro já mostrou o que (não) consegue fazer em situações como essa.
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