Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Congresso mostra as rédeas para controlar agenda do governo Lula
Barbeiragem do saneamento deu ao centrão chance de estreitar margem de atuação do Planalto
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A barbeiragem do governo na tentativa de mudar o marco do saneamento expôs um problema bem maior do que uma possível derrubada dos decretos de Lula para o setor. A revisão das regras é considerada um item lateral da agenda do petista, mas o risco de derrota desse plano deve afetar toda a operação política do Planalto no Congresso.
Descrita por integrantes do próprio governo como "um resultado humilhante", a votação da Câmara mostrou que falta um termômetro na cozinha de Lula. Auxiliares do presidente foram incapazes de antever a reação dos parlamentares e, pior, conquistar a fidelidade de partidos que deveriam compor sua base.
A votação apontou que a União Brasil não é a única legenda que se sente confortável o suficiente para desafiar o governo, apesar do generoso espaço ocupado na Esplanada dos Ministérios. O MDB, até então considerado um parceiro firme, deu 31 de seus 32 votos contra o decreto de Lula —ainda que abrigue o ministro da área, Jader Filho (Cidades).
A condução atrapalhada do tema deu ao centrão e seus aliados a oportunidade de exibir em público as rédeas com que pretendem controlar a agenda de Lula. Num recado pouco amigável ao governo, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que a principal reforma do Congresso será "não deixar retroceder tudo o que já foi aprovado no Brasil".
Os partidos que formam maioria no Legislativo tentam reforçar suas posições como âncoras das medidas econômicas aprovadas por eles mesmos nos anos Michel Temer e Jair Bolsonaro, incluindo o marco do saneamento. O objetivo é explorar a flâmula da centro-direita para ganhar poder de barganha nas negociações com Lula.
O jogo torna a margem de atuação do governo ainda mais estreita. Lula deve abrir mão de fatias do Orçamento para atender às demandas dos parlamentares e, mesmo assim, continuar sob a mira de um Congresso disposto a apertar os limites de gastos do Planalto nas discussões do novo arcabouço fiscal.
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