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Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

Descrição de chapéu The New York Times

Eleições nos EUA entram em fase de busca ansiosa de escândalos

Trump precisa de um caso que crie um momento marcante, e ele não vai parar de tentar até encontrar um que funcione

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The New York Times

Dustin Grage, colunista do site conservador Townhall e estrategista republicano que se descreve como "um agitador em Minnesota", postou no X um trecho de um discurso de 2012 de Tim Walz para a Legião Americana.

No trecho, o candidato à Vice-Presidência dos Estados Unidos diz: "Quando eu estava no Afeganistão, você sabe com o que nossas tropas estavam preocupadas? Com o plano de saúde de suas famílias e com suas pensões."

A postagem de Grage disse que Walz afirmar que estava no Afeganistão era "outro exemplo de Valor Roubado [nome dado à prática, considerada crime, de mentir ou exagerar sobre méritos durante o serviço militar]."

Mas Walz, de fato, visitou o Afeganistão e conversou com tropas como parte de uma delegação do Congresso em 2008. Grage admite isso em uma nota que foi posteriormente anexada à postagem, reclamando que Walz "não especificou" que estava se referindo à "viagem quatro anos antes."

O ex-presidente dos EUA Donald Trump, atual candidato republicano à Casa Branca, fala durante entrevista coletiva na Trump Tower, na cidade de Nova York - Reuters

Mas Grage não removeu a postagem de "Valor Roubado", que foi vista mais de 340 mil vezes. A nota, por outro lado, foi vista apenas cerca de 4.000 vezes. Essa diferença é como a desinformação se espalha.

Alguns questionamentos legítimos surgiram sobre declarações que Walz fez sobre seu serviço, mas quatro veteranos especializados em investigar casos de engano sobre o serviço disseram ao The New York Times no mês passado que "eles não acreditam que Walz tenha se envolvido em Valor Roubado, mas que ele distorceu seu histórico às vezes ou, no mínimo, não foi sempre preciso."

A acusação de "Valor Roubado" não é verdadeira e não está pegando, mas isso não impediu os conservadores de usá-la. Eles tentarão qualquer coisa que achem que possa mudar a narrativa.

Entramos na fase de procurar escândalos da corrida presidencial. A batalha é assimétrica. Donald Trump é assolado por tantos escândalos que começam a se misturar e as pessoas se tornam insensíveis a eles, enquanto vídeos continuam surgindo de seu companheiro de chapa, JD Vance, repetidamente vilipendiando pessoas, especialmente mulheres, por não terem filhos.

O escândalo pode funcionar de duas maneiras em uma campanha. Pode reforçar uma impressão negativa. É isso que os ataques de "Valor Roubado" pretendem fazer, para cimentar a ideia de que Walz —e Kamala Harris, em certa medida— não são o que parecem, que são inflados além de suas realizações reais.

As revelações sobre Vance e sua mensagem maleável como massinha de modelar sobre direitos reprodutivos também fazem isso, sublinhando a ideia de que a chapa Trump-Vance carece de compaixão e respeito por certas pessoas.

A outra maneira como o escândalo pode funcionar é em um nível mais amplo, que altera a corrida, onde ele chega com tanto peso e tão perto da eleição que não há tempo suficiente para o sujeito se ajustar a isso. Esses são eventos sísmicos e são raros.

Essa corrida já teve dois eventos sísmicos: o atentado contra Trump, que perdeu destaque, e a substituição do presidente Joe Biden por Kamala, que mudou completamente a corrida.

As surpresas de outubro vieram em julho. A corrida atingiu o clímax cedo demais. Agora parece estar se estabelecendo uma nova normalidade, em um caminho suave para novembro. Isso não quer dizer que os próximos dois meses serão sem novidades ou que podemos prever com confiança um resultado.

Surpresas não são apenas possíveis; elas são prováveis. Mas alguma dessas surpresas chegará a um nível de "Mas e os emails dela!"? [A frase é uma referência ao escândalo envolvendo Hillary Clinton, enquanto secretária de Estado, e o uso indevido de seu email pessoal para assuntos de governo]. Alguma delas mudará fundamentalmente a corrida? Tudo o que podemos dizer com certeza é que o relógio está correndo e o entusiasmo mudou.

Isso gerou um pânico no mundo de Trump. E o republicano entra em pânico de forma agressiva. O desespero aumenta o instinto de jogar sujo.

Dias após o vazamento da "Access Hollywood" em 2016 (fita em que ele usa linguagem vulgar para se referir ao sexo feminino), Trump realizou uma entrevista coletiva com várias mulheres que haviam acusado o ex-presidente Bill Clinton de comportamento sexual inadequado. Ele então planejou sentá-las perto do palco no debate daquela noite com Hillary Clinton.

Kamala abraçou sua candidatura e a está assumindo. Tenho certeza de que ela realmente quer vencer. Mas a motivação de Trump é diferente e mais profunda. Para ele, vencer é existencial. Ele está concorrendo para evitar ou adiar algumas acusações muito sérias que poderiam resultar em prisão. Ele é impulsionado por um instinto amargurado de autopreservação e retaliação.

Trump precisa de um escândalo que crie um momento marcante, e ele não vai parar de tentar até encontrar um que funcione.

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